28 de abril de 2011

'Diversidade Religiosa Brasileira'

Romarias, velas acesas, flores lançadas ao mar, batuques, fitas coloridas, danças, flagelos. A fé se manifesta de múltiplas formas: da alegria das rodas de candomblé, às lágrimas de dor e sacrifício de devotos penitentes. A fé se revela tão múltipla quanto a formação da própria identidade cultural brasileira, que mistura sagrado e profano, europeu e nativo. De tantas cores e símbolos é formado o mosaico religioso nas fotografias da mostra coletiva “Diversidade Religiosa Brasileira”, aberta hoje ao público na galeria Fotoativa. A exposição fica em cartaz até 8 de maio, e traz obras de 25 artistas, que percorrem o terreno das celebrações católicas e afro-brasileiras.

Debate sobre preconceito e tolerância
Cerca de 35 fotografias compõe a grande costura de imagens da mostra, que aproxima círios, candomblé, culto do Vale do Amanhecer, terreiros Mina, pregações evangélicas, umbanda, hinduísmo e judaísmo. “O fotógrafo é um constante observador das manifestações humanas e, entre elas, não há como não se envolver com a força da fé”, diz Guy Veloso, curador da exposição. “Plasticamente, as celebrações religiosas são muito valiosas. Cores, gestual, figurino. Tudo compõe uma intensidade dramática e visual deslumbrante”, completa o fotógrafo, que há quase uma década se dedica ao projeto “Penitentes”, e percorre o Brasil para registrar cultos secretos de autoflagelação. Integram a mostra duas dessas imagens, feitas em 2007, no Vale do Amanhecer, em Planaltina (DF).

Numa cidade tradicionalmente marcada por uma das maiores festas católicas do mundo, o Círio de Nazaré, expor o caleidoscópio das crenças religiosas é convocar olhares, e abrir o debate contra o preconceito. E o momento parece oportuno. “Tivemos em março o Culto da Liberdade Religiosa e o Dia de Respeito às Religiões Afrobrasileiras. Se ainda precisamos de datas especiais para lembrar desses princípios de tolerância, há algum problema”, reflete Michel Pinho, fotógrafo e professor de história, idealizador do projeto.

“Uma das propostas do projeto é problematizar uma leitura apenas européia sobre a fé e seus ritos. Visto no conjunto, não corremos o risco de confirmar o dito popular que ‘Deus é só um’. Essa frágil afirmação não resiste a pluralidade de manifestações existentes ao longo do processo histórico brasileiro e nem poderia sê-lo, pois é na diversidade de expressões que se assenta o enorme legado cultural e religioso nacional’, argumenta Pinho.

PLURALIDADE
No universo da fé, Marujada paraense também entra em foco. A festa em louvor a São Benedito remonta a uma tradição negra da época da escravidão, e traz mulheres vestidas em longas saias vermelhas, e cavalheiros trajando branco. “Esse sincretismo religioso está entranhado na vida das pessoas, principalmente aqui no Pará. A força da fé faz com que as crenças se misturem por amor a Deus, seja qual nome ele tiver em cada uma das religiões”, defende Fatinha Silva, fotógrafa há 12 anos, que expõe na coletiva imagens da Marujada de Quatirupu, nordeste paraense.

A amplitude do tema reserva ainda espaço para deuses orientais. Shamara Fragoso expõe auto-retrato com túnica egípcia, e Alan Soares, fotografias de Ganesha, deusa indiana. “Eles achavam que não tinham material adequado para a exposição. Bastou conversarmos, e eles produziram o que, para mim, são algumas das melhores imagens da exposição”, diz Guy Veloso.

Democrática, a mostra traz obras assinadas por fotógrafos já renomados e também por jovens artistas: Alexandra Farah, Analú Morais, Ana Morkazel, Alan Soares, Anita Lima, Bob Menezes, Cinthya Marques, Emídio Contente, Fatinha Silva, Francilins, Guy Veloso, Irene Almeida, Joyce Nabiça, Luciana Bezerra, Michel Pinho, Paulo Gomes, Roberto Malato, Rafael Araújo, Shamara Fragoso, Tamara Saré, Tarso Sarraf, Thiago Araújo, Valério Silveira, Vinicius Xavier e Wagner Okasaki.

VISITE
Coletiva “Diversidade Religiosa Brasileira”, na Galeria da Fotoativa (Praça das Mercês, 19, bairro do Comércio). A mostra segue em cartaz até 8 de maio, de segunda a sexta, de 09h às 13h e 15h às 18h, e sábado, de 09 às 13h. Informações: 3225-2754. Entrada franca.

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