29 de outubro de 2009

Especialistas defendem atenção à primeira infância para uma cultura de paz

Qua, 28 de Outubro de 2009 22:00

A importância da atenção à primeira infância para a promoção de uma cultura de paz foi destacada nesta quarta-feira (28) por especialistas do Brasil, da França e do Canadá, em audiência pública realizada pelas Comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE) e de Assuntos Sociais (CAS).Trabalhos junto a crianças e a gestantes jovens e bebês e a atuação de uma entidade que se dedica a valorizar as brincadeiras foram apresentados aos senadores na reunião.



Diretor do Centro de Excelência para o Desenvolvimento da Primeira Infância da Universidade de Montreal (Canadá), Richard Tremblay chamou a atenção para a necessidade de os programas voltados para as crianças serem avaliados a partir de critérios rigorosos. Tremblay relatou experiência realizada nos Estados Unidos entre 1935 e 1939 com crianças de 5 a 12 anos em situação de risco. Quarenta anos depois, uma avaliação feita por Joan McCord, criminologista que se dedicou a examinar a eficácia de programas sociais em sua área, indicou que as crianças atendidas tiveram mais problemas na vida adulta - como a tendência ao envolvimento em crimes - do que grupo similar de meninos que não haviam recebido atenção especial.


O diretor relatou uma experiência bem-sucedida no Canadá de atendimento a crianças que apresentaram problemas ao ingressar na escola, feito por meio de visitas domiciliares e de apoio nos estabelecimentos de ensino. Também se referiu a um trabalho realizado em creches nos Estados Unidos que produziu bons resultados: as crianças atendidas cresceram saudáveis e tiveram sucesso na escola. Segundo Tremblay, programas bem feitos trazem benefícios econômicos. Ele citou cálculos que indicam que a cada dólar investido no acompanhamento de crianças em situação de risco são economizados US$ 7, com vantagens para os sistemas judicial e penitenciário.


Entre as conclusões apresentadas por Tremblay, estão a de que é importante intervir no começo da infância, a de que a qualidade dos recursos da intervenção é relevante especialmente com crianças nascidas num contexto de adversidade e a de que, para reduzir as desigualdades nos campos da educação e da saúde, é preciso oferecer serviços eficazes a partir da gestação.


Brincar


A presidente da Associação Brasileira pelo Direito de Brincar, Marilena Flores Martins, lembrou que o direito à infância está assegurado na Constituição e apresentou a informação de que 45,5% das famílias mais pobres do Brasil têm crianças na primeira infância, de zero a 6 anos de idade.


Marilena Martins disse que, nos primeiros anos de vida, a criança precisa de afeto, estímulo, atividade e estrutura. Ela defendeu o ato de brincar como fundamental para uma cultura de paz. Segundo destacou, uma das bases da violência é a incapacidade de lidar com as frustrações, e a criança, quando brinca, aprende a controlar seus impulsos, a aceitar as frustrações e a negociar.


A especialista disse ainda que, muitas vezes, preconceitos como os de que "brincar é perda de tempo", "a mente ociosa é a mãe de todos os vícios" e "só o trabalho dignifica o homem" acabam por impedir a erradicação do trabalho infantil.


A associação presidida por Marilena Martins é vinculada à International Play Association (IPA). Fundada há 48 anos na Dinamarca, a IPA não tem fins lucrativos, tem representação em mais de 50 países, status consultivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o título de Mensageira da Paz conferido pela ONU.


Grávidas


Já o presidente da Associação Mundial da Saúde Mental Infantil (França), Antoine Guedeney, relatou experiência com famílias vulneráveis em Paris. Até 2010, estão sendo atendidas, a partir da gestação e até os bebês completarem dois anos, 440 mulheres com menos de 26 anos de idade que estão na primeira gravidez e que ou se declararam isoladas psicologicamente, ou têm baixo nível socioeconômico ou ainda menos de 12 anos de estudo. Ele ressaltou a importância de atenção à primeira infância, afirmando que, nos dois primeiros anos de vida, o ser humano é capaz de falar, pensar, desenvolver a curiosidade e inibir comportamentos, especialmente o comportamento agressivo.


Guedeney citou vários autores que demonstram a importância de a prevenção da violência começar cedo e disse que as crianças mais suscetíveis a uma trajetória de risco serão as mais beneficiadas pelas intervenções que buscam garantir a segurança dos vínculos afetivos, considerados prioritários na primeira infância e que podem estar afetados pelo estresse de pais jovens ou ainda por dificuldades econômicas. O especialista lembrou que os pais têm enorme influência no desenvolvimento psicológico dos bebês e que isso é trabalhado com as mães, que também são estimuladas a entrar em contato com as redes sociais da comunidade.


A audiência pública é uma das atividades da 2ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz, promovida pelo Senado, em parceria com entidades públicas e privadas. A reunião desta quarta-feira, solicitada pelos senadores Rosalba Ciarlini (DEM-RN), Flávio Arns (PSDB-PR) e Cristovam Buarque (PDT-DF), foi presidida pelas senadoras Marisa Serrano (PSDB-MS), vice-presidente da CE, e Rosalba Ciarlini, presidente da CAS.


Rita Nardelli / Agência Senado

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