Mais de 300 organizações de 36 países decidem em assembleia
do FSMPL ampliar a pressão para efetivar o Estado palestino, já!
Por Leonardo Severo, do ComunicaSul
Com o salão de atos da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul tomado por militantes dos cinco continentes, o Fórum Social Mundial
Palestina Livre, que somou desde quarta-feira (28) mais de 300 organizações de
36 países em Porto Alegre, foi encerrado no final da tarde deste sábado (1) com
uma conclamação para que sejam realizadas ações e campanhas de boicote,
desinvestimento e sanções (BDS) contra a ocupação israelense, a fim de acelerar
a concretização do Estado palestino.
O objetivo é tão claro como efetivo, frisou o herói judeu e
ex-ministro de Nelson Mandela, Ronnie Kasrils: atingir a elite reacionária de
Israel no bolso. “O exemplo que trazemos da nossa luta contra o apartheid na
África do Sul é que precisamos atingir o inimigo onde dói mais. E o bolso, para
eles, dói mais do que a cabeça”, declarou. Ronnie ressaltou que “ao mesmo tempo
em que a resistência nos inspira a aumentar a campanha de boicote,
desinvestimento e sanções, a campanha de BDS ampliará o isolamento da política
de terrorismo de Estado israelense, inspirando a população palestina a
fortalecer a resistência”. “Mandela sempre nos dizia: Nós da África do Sul só
poderemos nos sentir livres quando o povo palestino seja livre. Agora vamos
redobrar, triplicar os nossos esforços para que isso finalmente aconteça”,
defendeu.
Conforme a italiana Maren Mantovani, relações internacionais
do movimento palestino Stop the Wall, a campanha de BDS é chave para “atingir
as empresas que estão apoiando financeiramente a expansão do muro do apartheid,
roubando a água da população e metade da terra da Cisjordânia, e ainda
produzindo armas para matar quem resiste”.
O muro de cerca de 850 quilômetros de extensão segue as
fontes de água e as terras mais produtivas, ambas saqueadas dos palestinos,
separando famílias e obrigando muitas crianças a caminharem horas para chegar
na escola.
“Nós pagamos duas vezes o preço da água, que depois de nos
ser roubada, nos é racionada, o que impede muitos cultivos. Enquanto isso, os
colonos dos assentamentos ilegais, que ampliam a ocupação com o assalto às
nossas terras, vivem em abundância, alguns com piscina em casa. Sem pressão
internacional, crimes como estes continuarão ocorrendo”, esclareceu Jamal Juma,
ativista do BDS que já foi preso por Israel acusado do crime de “plantar
oliveiras” e liderar mobilizações contra o muro.
O secretário de Relações Internacionais da CUT, João
Felício, que conheceu de perto a dura realidade vivida nos territórios
palestinos ocupados, acredita que é insustentável países como o Brasil continuarem
sendo um dos principais parceiros militares de Israel. “No caso das armas, uma
campanha de boicote tem muitas condições de se espraiar, pois se está
alimentando os lucros de quem ganha com o crime”, avalia.
Em nome da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), Rosane
Bertotti ressaltou o compromisso das organizações brasileiras de colocarem a
campanha de boicote na agenda, “pois a mobilização popular em cada país tem
papel decisivo para a derrota desta absurda e criminosa política de apartheid”.
Rosane leu na assembleia a carta em que o presidente Lula
parabeniza os participantes do evento e manifesta sua esperança “de que o Fórum
seja um instrumento de amplificação do chamado dos povos por uma paz justa e
duradoura”. “Sempre estive ao lado da paz e do diálogo entre os povos e
acredito no potencial extraordinário que se abriria no campo da justiça social
e do desenvolvimento com a coexistência pacífica entre os dois Estados
soberanos da Palestina e de Israel.”
Momentos antes da abertura, a ministra Maria do Rosário, da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, comemorou a
“importante votação” na ONU em apoio ao Estado palestino e reiterou que o
governo brasileiro prosseguirá lutando “contra todas as formas de violência,
opressão e exploração”. “O Brasil acredita que é dessa forma que construiremos
a paz, a solidariedade é a forma pela qual nos movemos no cenário
internacional. Acreditamos, portanto, que o retorno do nosso país ao Conselho
de Direitos Humanos das Nações Unidas vai atuar em conjunto com outros países
pela construção de direitos do povo palestino, como compromisso mundial”,
sublinhou.
Fórum vitorioso
“Fomos vitoriosos e derrotamos os inimigos da comunidade
palestina, que pressionaram e tentaram desmobilizar o Fórum alegando que
estavam vindo para Porto Alegre terroristas, gente que só queria violência.
Foram quatro dias de intensos debates, com respeito e dignidade, coroados por
uma marcha extraordinária de milhares de manifestantes”, comemorou o presidente
da CUT-RS, Claudir Nespolo.
Representando a Marcha Mundial das Mulheres, Miriam Nobre
declarou que o Fórum colocou em novo patamar a luta de solidariedade com o povo
palestino, “que viu fortalecida a mobilização contra os abusos e crimes
cometidos pelo Estado de Israel”. Entre outros abusos, várias representantes
palestinas presentes apontaram a prisão de meninas menores de idade e a morte
de mães e crianças nos mais de mil “postos de controle” que cerceiam a
liberdade de ir e vir em território palestino. “Muitas mães sangram até morrer,
com os soldados israelenses impedindo o seu deslocamento”, denunciaram.
Na avaliação de Joaquim Pinheiro, do MST, o Fórum serviu
para trazer mais informações e dar a dimensão real do que significa a política
de ocupação e segregação adotada pelos sionistas. “As organizações brasileiras
cumpriram bem a tarefa pela qual tanto se empenharam. Esta é a semente de uma
grande luta que culminará a nível internacional com a libertação do povo
palestino”, disse.
Para a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP) e do
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz),
Socorro Gomes, “falar da Palestina Livre hoje é uma questão de humanidade, deve
ser responsabilidade de todos os povos do mundo”.
O Fórum contou com mais de 160 atividades desenvolvidas com
os seguintes eixos temáticos: Autodeterminação e direito de retorno; Direitos
humanos, direito internacional e julgamento de criminosos de guerra; Estratégia
de luta e solidariedade – boicote, desinvestimento e sanções contra Israel; Por
um mundo sem muros, bloqueios, discriminação racista e patriarcado; Resistência
popular palestina e o apoio dos movimentos sociais.
Declaração final repudia agressão à Gaza
A declaração final do Fórum Social Mundial Palestina Livre e
da assembleia dos movimentos sociais lembra que o processo de construção do
evento “foi tristemente marcado pelo covarde ataque militar de Israel à Faixa
de Gaza, que tirou a vida, até o momento, de 167 palestinos, em sua maioria
mulheres e crianças”.
Desde Porto Alegre os movimentos sociais dos cinco
continentes manifestaram seu “repúdio à agressão sionista e exigiram a
condenação de mais este crime contra a humanidade patrocinado pelo governo de
Israel”. “Manifestamos o nosso mais profundo sentimento de solidariedade à
resistência contra a ocupação israelense, reafirmando o compromisso dos povos
do mundo em tornar realidade o reconhecimento do Estado palestino livre e
soberano. Recebemos este reconhecimento pelas Nações Unidas com esperança em um
futuro de paz. Este é um importante passo rumo à reparação de uma injustiça
histórica contra a Palestina e a Humanidade”.
“Após intensos e frutíferos dias de debates e trocas de
experiências”, os movimentos sociais reafirmaram os consensos do movimento
internacional de solidariedade à Palestina em relação às ações e campanhas a
serem desenvolvidas no próximo período. Já na próxima semana, na Cúpula do
Mercosul em Brasília, as entidades levarão um documento solicitando dos
governos o fim de qualquer acordo com o Estado de Israel.
Fonte: Vermelho
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