Ana Gómez.
Cartagena (Colômbia), 11 abr (EFE).- Líderes
indígenas de 14 países do continente americano reivindicaram nesta
quarta-feira no Fórum Social prévio à 6ª Cúpula das Américas seu papel
de atores sociais e políticos para deixar de ser o 'folclore' das
democracias continentais.
Os 150 representantes dos povos
indígenas iniciaram seu dia em Cartagena das Indias com uma homenagem à
folha de coca como símbolo sagrado 'de vida e não de morte' e um ritual
de agradecimento à Mãe Terra.
Porém, imediatamente depois passaram
a exercer seu papel social e político em uma série de debates nos quais
anteciparam qual é sua mensagem para a Organização dos Estados
Americanos (OEA) e para os chefes de Estado de 33 países que se reunirão
neste final de semana na cidade colombiana.
O peruano Miguel
Palacín, líder da Coordenadora Andina de Organizações Indígenas (CAOI),
expôs em entrevista coletiva seu desejo que a cúpula traga a inclusão
dos povos nas sociedades não só 'para ser o folclore das democracias,
mas para garantir uma participativa ação em sua formação'.
O
caminho para isso é, segundo o presidente da Organização Nacional
Indígena da Colômbia (ONIC), Luis Evelis Andrade, que se abram espaços
reais para o diálogo com os países e que se aprove urgentemente a
Declaração Americana dos Direitos Indígenas na qual a OEA trabalha há
mais de seis anos.
Esse documento, como sustentou Andrade durante
um encontro com o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, 'não
pode estar abaixo do padrão de uma declaração similar das Nações Unidas'
aprovada em 2007.
Insulza lamentou a demora na aprovação do texto
que, segundo assegurou, ganha complexidade e dimensões com o tempo, até
o ponto de estar projetado como um tratado.
Todas estas
reivindicações fazem parte do documento de conclusões 'Tecendo alianças
pela defesa da Mãe Terra' que os índios apresentarão na sexta-feira e no
qual fazem várias recomendações aos países a respeito dos cinco eixos
temáticos oficiais da cúpula.
São estes a segurança, a luta contra
a pobreza, a prevenção e resposta a desastres naturais, o fomento do
uso e acesso à tecnologia e a integração física mediante monumentais
obras de infraestrutura no continente.
É este último ponto o que
mais preocupa os povos aborígines, na medida em que está associado com a
extração de recursos naturais localizados em seus territórios.
Por
esse motivo, Palacín pediu aos governos que se comprometam com os
diferentes tratados internacionais que assinaram para que não executem
megaprojetos 'se não são plenamente consultados' com os povos locais.
Porém,
a voz dos indígenas não só observa os temas oficiais, mas também põe o
foco em um dos assuntos que tratarão de forma informal os chanceleres e
os chefes de Estado, que é a discussão sobre novas estratégias de luta
contra o narcotráfico, alternativas a um modelo que se considera
fracassado.
'Nós estamos de acordo com que se debata e se busquem
mecanismos mais efetivos', disse Andrade, antes de pedir 'o compromisso
dos governos para não satanizar a folha de coca'.
Precisamente foi
Andrade o encarregado de entregar à chanceler da Colômbia, María Ángela
Holguín, de um maço de folha de coca, após esclarecer que lhe oferecia
'uma folha sagrada que deve contribuir ao desenvolvimento e não às
violações'.
Também os representantes de organizações civis
reunidos hoje no marco do Fórum Social se referiram a este debate, mas
foram além, ao sugerir descriminalizar a posse e o consumo pessoal de
maconha, e que o uso de qualquer tipo de droga seja tratado como um
assunto de saúde pública e não penal.
Embora esteja previsto que
as atuais políticas antidrogas sejam debatidas pelos líderes na cúpula,
Insulza já adiantou que não cabe esperar que haja conclusões nem
acordos, dado que o debate terá um caráter informal. EFE
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