29 de fevereiro de 2012

Mujica cobra Mercosul sobre direitos humanos


BUENOS AIRES - O governo do presidente uruguaio José "Pepe" Mujica reiterou na terça-feira a necessidade de que todos os países da região cumpram uma recente resolução assinada pelos membros do Mercosul sobre a troca de informações na área de direitos humanos.
A posição uruguaia foi expressada pelo chanceler Luis Almagro durante um encontro ministerial em Genebra no mesmo dia em que os tribunais de Montevidéu reabriram o caso sobre o sequestro de Lilian Celiberti e Universindo Rodríguez Díaz, detidos por militares uruguaios em Porto Alegre, em 1978, e posteriormente levados para o Uruguai.
A possibilidade de uma eventual colaboração do governo Dilma Rousseff em investigações sobre crimes ocorridos no âmbito da chamada Operação Condor, o plano de ação conjunta entre as ditaduras do Cone Sul, foi considerada histórica por Celiberti, que na terça-feira prestou depoimento na capital uruguaia, 28 anos após ter apresentado a primeira denúncia. Depois de ter sido sequestrada no Brasil, a uruguaia passou cinco anos presa em seu país.
- No ano passado estive com a ministra Maria do Rosário em Porto Alegre e ela me disse que o governo Dilma tinha toda a disposição de colaborar - contou Lilian ao GLOBO, por telefone, emocionada pela reabertura de um dos tantos casos que nos próximos anos deverá ser julgado pela Justiça uruguaia.
Segundo ela, "se o Brasil entregasse documentos da época da ditadura para o Uruguai poderia ajudar e muito".
- Em nosso caso, sabemos que quatro militares uruguaios participaram de nosso sequestro, mas outras pessoas poderiam estar envolvidas - assegurou Lilian, que lembrou a participação, também, de policiais brasileiros.
A uruguaia e seu marido foram sequestrados junto com seus dois filhos, Camilo e Francesca, que na época tinham 8 e 3 anos de idade, respectivamente. O caso, reaberto graças a uma nova lei aprovada no ano passado que declarou os crimes da ditadura (1973-1985) como delitos de lesa humanidade, é um dos mais emblemáticos da Operação Condor.
- Se o Brasil tiver documentos sobre esta sinistra operação poderia nos ajudar em nossas investigações - disse o advogado Jorge Pan, do Instituto de Estudos Legais e Sociais do Uruguai (Ielsur), que trabalha com familiares de desaparecidos e ex-presos políticos uruguaios.
Para ele, "é muito provável que o Brasil tenha informação, porque os militares sempre deixaram tudo por escrito. No Uruguai muitos documentos desapareceram e qualquer informação que possa chegar do Brasil será muito útil".
- Poderá levar a abertura de novos casos - comentou Pan.
O advogado lembrou que "em 1971 os militares brasileiros manifestaram seu total respaldo às Forças Armadas uruguaias em momentos de tensão política e disseram estar dispostos a colaborar em tudo o que fosse necessário".
Na visão do deputado Felipe Michelini, da governista Frente Ampla, "tudo o que o Brasil poder entregar ajudará para conhecer a verdade e aprofundar as investigações judiciais". Felipe é filho de Zelmar Michelini, um importante dirigente político do Uruguai que foi sequestrado na década de 70 na Argentina e continua desaparecido.
- As ligações entre nossos países eram enormes, meu pai conhecia muito Leonel Brizola (que esteve exilado no Uruguai) e outros políticos brasileiros - comentou Michelini.
Estimativas oficiais indicam que durante o regime militar uruguaio 34 pessoas foram assassinadas no país. No mesmo período, outras 106 vítimas da ditadura mortas no exterior, principalmente na Argentina.
Dados conservadores indicam que a ditadura obrigou 250 mil uruguaios a rumarem para o exílio.

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