O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, comentou,
em entrevista ao Jornal do Brasil, na tarde desta quinta-feira (16), o recente
crescimento dos ataques contra cristãos em países de maioria muçulmana na
África Ocidental, Oriente Médio, sul da Ásia e Oceania. De acordo com dom
Orani, a sociedade deve ficar alerta a todos os tipos de intolerância,
inclusive a religiosa, que vêm crescendo com o passar dos anos.
“Infelizmente, desde o começo, os cristãos foram
perseguidos, e imaginávamos que, com o tempo a intolerância fosse acabar, mas
tem aumentado, não só em países que são de minoria”, comentou. “Já para os
cristãos, minha mensagem é de que isso deve lembrar tudo que Jesus disse.
Acreditamos em uma vida que vai além da morte e diante disso devemos ser fortes
e não renunciar da nossa fé, sem ódio e sem retribuir o mal”.
“Não podemos acusar esse ou aquele segmento. O fanatismo existe em qualquer lugar", destacou dom Orani
Desde que foram deflagradas as manifestações da Primavera
Árabe, o radicalismo vem aumentando em segmentos islâmicos. Em muitos países em
que os cristãos são minorias, eles são alvo também de assassinatos, incêndios
criminosos em igrejas e migrações forçadas. Na Nigéria, muitos sofreram essas
formas de perseguição. O país tem a maior minoria cristã (40%) em relação à sua
população (160 milhões) de qualquer país de maioria islâmica. Durante anos,
muçulmanos e cristãos na Nigéria vivem em uma iminente guerra civil. Apenas em
janeiro de 2102, um grupo radical chamado Boko Haram foi responsável por 54
mortes. Em 2011, seus membros mataram pelo menos 510 pessoas e atearam fogo ou
destruíram mais de 350 igrejas em dez estados do norte.
Ainda assim, dom Orani afirma que não se deve julgar os
membros da religião islâmica. Para ele, esses crimes são fruto de um
radicalismo que independe de ideologia ou religião.
“Não podemos acusar esse ou aquele segmento. O fanatismo
existe em qualquer lugar, de muitas formas, não é um tipo de religião ou crença
que leva a isso, são grupos que se fanatizam”, comentou. “Isso deve servir de
alerta para a sociedade. É preciso respeito mútuo, independentemente de
religião, ideologia. A sociedade já devia ter chegado a esse estágio de
convivência pacifica entre as pessoas e parece que mudam-se os tempos, e mudam
apenas os atores, mas a intolerância acontece no mundo de outras formas”.
Essa intolerância vem fazendo cada vez mais vítimas. Em
Kordofan do Sul, cristãos ainda são submetidos a bombardeios, assassinatos,
sequestro de crianças e outras atrocidades. Relatórios das Nações Unidas
indicam que 53 mil a 75 mil civis inocentes já foram expulsos de suas moradias
e que casas e prédios foram saqueados e destruídos. Já em outubro do ano
passado, na área de Mapero, no Cairo, cristãos coptas (que não chegam a
representar 11% da população), marcharam em protesto contra as ondas de ataques
cometidos por grupos islâmicos - incluindo incêndios a igrejas, estupros, mutilações
e assassinatos – que se seguiram à derrubada do governo ditatorial de Hosni
Mubarak. Durante o protesto, forças de segurança egípcias dirigiram suas
caminhonetes em direção aos manifestantes, atirando contra eles, matando 24 e
ferindo mais de 300 pessoas. Até o fim do ano, mais de 200 mil cristãos coptas
abandonaram suas casas para não sofrerem ataques.
Para dom Orani, uma das medidas que as autoridades podem
tomar é ligada à educação.
“Dar educação onde todos sejam contemplados. Onde os vários
tipos de religões e ideologias possam ser respeitados dentro daquilo que é a
própria vida. E além disso, sim, punir aqueles que cometem essas atrocidades
que vão contra a lei”, disse.
Fonte: Jornal do Brasil
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