22 de novembro de 2011

UnB sedia campanha internacional em favor do direito à educação


Jovens iranianos têm acesso restrito ao ensino superior




 




















Inspirados pela campanha internacional Can You Solve This?, que em português significa “Você Consegue Resolver Isso?”, estudantes universitários de Brasília (DF) realizarão, entre os dias 21 a 23 de novembro, uma grande mobilização em defesa do direito à educação no Irã. O palco da versão brasileira da campanha será a Universidade de Brasília (UnB) – cujo papel histórico na defesa de direitos no Brasil e outras partes do mundo é reconhecido desde a época de sua fundação, em meio ao regime militar.

Iniciada na Alemanha, a campanha foi criada como forma de mobilizar jovens de todo o mundo em defesa dos estudantes iranianos que são barrados do acesso às universidades por causa de suas convicções sociais, políticas ou religiosas. Segundo Lia Cruz, estudante do curso de Letras da UnB, “pessoas envolvidas com o movimento estudantil, com a defesa dos direitos das mulheres ou que tenham participado dos movimentos pela renovação política no Irã são todas fichadas e, na hora de se matricularem nas universidades, recebem a informação de que não podem estudar.”


A página da campanha já foi adaptada para utilização em diversos países, incluindo o Brasil, a Austrália, a Eslovênia e vários outros.


Lia – que é a principal articuladora da campanha na UnB – diz ainda que existe uma política sistemática que impede os jovens seguidores da Fé Bahá'í no Irã de ter acesso às universidades. “Fico chocada ao saber que são jovens como eu, que nada mais querem do que ter uma formação universitária para melhor servir à sociedade, mas que por causa das suas crenças religiosas são impedidos de continuar seus estudos”, comenta a jovem brasileira, que também é bahá'í.



Em defesa dos que não têm voz


A campanha foca na mobilização social por meio de um vídeo intitulado “Você Pode Resolver Isso?”, no qual os internautas são convidados a tomar ações junto ao seu governo nacional para solicitar gestões junto às autoridades iranianas a fim de reverter a situação em que se encontram os jovens iranianos impedidos de estudar. Na página brasileira (que está disponível em
http://can-you-solve-this.org/br), há modelos de cartas que podem ser enviadas aos ministros da Educação, Fernando Haddad, das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Cartas também podem ser remetidas ao Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, e à Alta Comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Navy Pillay.

“Se essas pessoas não podem lutar pelos seus direitos, então nós devemos lutar por elas”, afirma a estudante de Pedagogia e também aluna da UnB Thissiana Cordeiro, de 28 anos. "Precisamos nos levantar para defender os direitos daqueles que não gozam deste privilégio que nós brasileiros temos, de ter acesso à educação independentemente de nossa religião ou ideologias”, afirma Thissiana, que segue a doutrina cristã.


Lia ressalta que ignorar a situação de intolerância e discriminação no Irã pode “permitir que essas injustiças ocorram em outras partes do mundo”.


Na UnB, um computador ligado à internet permitirá aos estudantes e funcionários da universidade assistir ao vídeo e enviar cartas imediatamente. Além disso, uma exposição de banners que retratam as violação de direitos humanos contra os bahá'ís no Irã estará exposta no térreo da “Entrada Norte A” do Instituto Central de Ciências (ICC), das 9h às 21h. A expectativa é que os cerca de 20 estudantes voluntários possam responder a perguntas e prestar informações ao público.


Dois dos banners que serão expostos na Entrada A do ICC Norte 

entre os dias 21 e 23 de novembro
















A recém formada em Direito pelo Uniceub, Stéphanie Fernandes, de 22 anos, não possui religião específica, mas diz acreditar em Deus. “O que salta aos meus olhos é a quebra aos direitos fundamentais do homem no tocante à prisão de pessoas condignas - e que buscam o bem - no Irã apenas por terem ideologias diferentes”, diz Stéphanie. “Como uma mulher que teve a feliz oportunidade de conviver anos cercada por bahá'ís, tenho ainda mais dificuldade em aceitar a situação”, complementa ela, ressaltando que não vê sentido em recriminar “pessoas que acreditam no amor, na ajuda ao próximo e na união”.

A bacharel comenta ainda que quem acaba pagando o preço por essa violação de direitos é a sociedade. “A ignorância de alguns, ao meu ver, priva bons homens de mostrarem sua devida importância ao mundo”, analisa.



Perseguidos por suas crenças


Desde a Revolução Islâmica em 1979, os 300 mil seguidores da Fé Bahá'í no Irã – a maior religião minoritária no país – estão sob alvo de frequente perseguição religiosa por parte do governo. Entre as diversas facetas desta perseguição está a negativa de acesso à educação – um direito internacionalmente reconhecido há mais de 60 anos, e cujo respeito é dever de todos os países signatários dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos, inclusive o Irã.


A política de estrangulamento da comunidade bahá'í iraniana está descrita num documento oficial revelado pelas Nações Unidas em 1991, conhecido como Memorando Golpaygani. O documento, assinado pelo Líder Supremo, Aiatolá Khamenei, diz que “[os bahá'ís] devem ser expulsos das universidades, seja durante o processo de admissão ou durante o curso de seus estudos, assim que se souber que são bahá'ís”.


Como forma de oferecer uma alternativa a esses jovens, um grupo de professores voluntários que havia sido impedido de lecionar nas universidades também por sua crença na Fé Bahá'í, passou a oferecer, na década de 1980, aulas de nível superior em suas casas. Esta iniciativa ficou conhecida como o Instituição Bahá’í de Educação Superior (BIHE), tendo ganhado prestígio e respeito internacional que garantem a seus egressos vagas em cursos de pós-graduação em vários países, como Estados Unidos, Austrália e Inglaterra.


As autoridades iranianas fizeram várias tentativas de impedir o andamento das aulas oferecidas pelo BIHE nas décadas seguintes. Em maio de 2011, numa série de buscas em casas de bahá'ís, vários de seus colaboradores e professores foram detidos, e materiais de estudo e de uso pessoal foram confiscados. Em seguida, em entrevistas concedidas à mídia controlada pelo Estado, as autoridades iranianas declararam que o BIHE seria uma iniciativa “ilegal”.


Após quase cinco meses de detenção, no dia 18 de outubro de 2011, sete professores bahá’ís receberam condenação de quatro e cinco anos de prisão, acusados de “atos contra o Regime”. Seus nomes são Vahid Mahmoudi, Kamran Mortezaie, Ramin Zibaie, Mahmoud Badavam, Farhad Sedghi, Riaz Sobhani e Nooshin Khadem. O julgamento ocorreu sem a presença do principal advogado de defesa, Abdolfattah Soltani, que fora preso poucos dias por sua atuação em prol de defensores de direitos humanos.


Lideranças bahá’ís presas


Atualmente mais de 100 seguidores da Fé Bahá’í estão atrás das grades no Irã. Além dos professores e colaboradores do BIHE, as sete lideranças nacionais bahá'ís também estão entre esses prisioneiros. Esses cinco homens e duas mulheres estão presos desde 2008, acusados de espionagem, propaganda contra a República Islâmica, e o estabelecimento de uma administração ilegal. Em agosto de 2010, foram condenadas a 20 anos de prisão.


Mais de 300 bahá’ís iranianos aguardam julgamento ou intimação para cumprirem suas sentenças, após terem sido detidos e liberados sob fianças exorbitantes – a maioria deles tiveram que entregar escrituras de propriedades ou licenças comerciais como garantia. Outras centenas de residências de bahá’ís convivem diuturnamente com ataques a suas casas e locais de trabalho, além de serem barrados de várias atividades comerciais e serem impedidos de realizar suas práticas religiosas.



Para saber mais, acesse
www.bahai.org.br/noticias

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