Criada há pouco menos de 4 anos, a EBC – Empresa Brasil de Comunicação – está concluindo a primeira fase de uma longa caminhada no sentido da consolidação e fortalecimento da comunicação pública brasileira. Diversos atores sociais, tanto da sociedade civil como dos poderes públicos, envolveram-se nos debates iniciais que deram origem à criação da empresa, em particular durante o I Fórum Nacional de TVs Públicas, o que deu uma grande legitimidade ao processo de criação da EBC, embora ela continue sofrendo críticas por parte da mídia comercial privada e de setores da oposição, que ainda não compreendem a relevância e a necessidade de se garantir a complementaridade entre os sistemas público, privado e estatal, prevista em nossa Constituição, para o fortalecimento de nossa democracia.
Infelizmente, o projeto da uma
comunicação pública forte no Brasil, representado em grande medida
pela criação da EBC, não se pode considerar consolidado e ainda
corre sérios riscos – evidenciados nas últimas duas semanas por
dois exemplos de atentado contra sua autonomia. Primeiro, a Justiça
Federal conferiu liminar ao pedido da Arquidiocese do Estado a fim de
garantir a permanência dos programas religiosos nas grades de
programação das mídias da EBC. Os programas deveriam ter sido
retirados das grades da TV Brasil e das rádios por decisão do
Conselho Curador.
No dia 29, em audiência no Senado
Federal para se debater a mesma decisão do Conselho Curador,
parlamentares de vários partidos colocaram em xeque o próprio
Conselho, atentando contra aquela que é uma das principais
conquistas democráticas do processo da criação da EBC. Chegou a
ser apresentada proposta de decreto legislativo anulando a decisão
do Conselho Curador.
A despeito do mérito da discussão
– e da dúvida sobre a legalidade das ações da Justiça e do
Senado – as duas tentativas representam uma séria ameaça à
autonomia da EBC e a seu caráter público, que tem no Conselho
Curador seu principal fiador. Cabe ao Conselho justamente o papel de
zelar pelos princípios e objetivos da empresa, opinar sobre matérias
relacionadas ao cumprimento desses princípios e objetivos, deliberar
sobre a linha editorial de produção e programação proposta pela
Diretoria Executiva da EBC e manifestar-se sobre sua aplicação
prática. No momento em que instituições do Legislativo e do
Judiciário tentam interferir na construção da programação da
emissora, seu caráter público fica evidentemente em risco.
Os próximos quatro anos
Neste momento, a EBC entra numa fase
delicada, mas ao mesmo tempo oportuna, de reafirmar seu caráter
público e republicano, ao aproximar-se do final do mandato da atual
Diretora-Presidente. Nestes quase quatro anos de existência, a atual
gestão da EBC promoveu avanços em alguns aspectos importantes, como
investimentos no parque tecnológico de suas emissoras, com obras e
reformas em suas instalações, e a melhoria e diversificação no
conteúdo de suas programações – não só através de novos
conteúdos de produção própria, mas também da produção
independente –, além de dar os passos iniciais para a criação de
uma Rede Nacional de TVs Públicas e garantir importantes ferramentas
de governança e controle público, como as Audiências Públicas e o
trabalho da Ouvidoria.
No entanto, há ainda um longo
caminho a percorrer para que a EBC e seus veículos de comunicação
(TV Brasil, Agência Brasil, 08 emissoras de rádios e Radioagência
Nacional) se aproximem de fato dos objetivos e metas traçados no I
Fórum Nacional de TVs Públicas, espaço que deu o pontapé inicial
no processo de criação desta nova empresa pública de comunicação
em nosso país. Entre eles, destacamos alguns que consideramos sejam
estratégicos para orientar o novo período de gestão que se
aproxima:
- A universalização do sinal da TV Brasil (e das emissoras de rádio da EBC), por meio de infraestrutura única e pública (Operador de Rede), compartilhada com os demais atores do campo público da comunicação;
- A construção de verdadeiras redes nacionais públicas de TV e de Rádio, com a EBC assumindo seu papel de espinha dorsal do sistema público, mas sempre dialogando com as demais missoras públicas de tv e rádio, universitárias, educativas e culturais, de caráter federal, estadual ou municipal e com suas entidades representativas.;
- A Consolidação da Contribuição para o Fomento da Comunicação Pública como fonte contínua e não contigenciável de um fundo para a comunicação pública, que possa ser acessado por todos os veículos públicos mas também, e principalmente, pela própria EBC;
- A transição para as transmissões digitais de rádio e televisão, bem como o protagonismo no uso de ferramentas interativas digitais e de linguagem inovadora;
- O fortalecimento das ferramentas de governança e de controle público de gestão da EBC, em particular do Conselho Curador, das Audiências Públicas e da Ouvidoria, no sentido de garantir uma máxima participação da sociedade na definição das diretrizes de gestão, programação e investimentos nos veículos da EBC;
- O desenvolvimento de metodologia e mecanismos de aferição de audiência e qualidade da programação condizentes com os objetivos da comunicação pública.
- Uma gestão interna que seja cada vez mais democrática, republicana e colegiada, condizente com a missão institucional de comunicação pública da EBC;
- A presença cada vez maior de produção local na programação da TV Brasil nas praças onde exista geradora própria do canal;
- A valorização do corpo de concursados da empresa, através de políticas justas de salários e condições de trabalho adequadas.
- A efetivação de parcerias com a produção independente e com as emissoras regionais que possibilitem a diversificação e regionalização do conteúdo da programação.
Esses são alguns dos desafios que
uma nova gestão da EBC terá que enfrentar. O atual processo de
sucessão na Presidência da EBC pode ser uma oportunidade valiosa
para a consolidação do caráter público e republicano da empresa.
Nomes de possíveis candidatos à sucessão começam a ser ventilados
na mídia, certamente profissionais com currículos qualificados e
competência comprovada em suas áreas. Sabemos que a Lei 11.652/08,
em seu artigo 19, determina que o Diretor-Presidente e o
Diretor-Geral da EBC sejam nomeados diretamente pelo Presidente da
República. Mas entendemos como fundamental que esse processo de
indicação seja precedido de publicização do debate e do
envolvimento da sociedade, em torno de ideias e projetos para o
futuro da comunicação pública e da EBC, tomando como referência
os objetivos estratégicos acima elencados. Um amplo debate no âmbito
da sociedade civil e do Parlamento certamente irá contribuir ainda
mais para consolidar o projeto da EBC em nossa sociedade.
17 de outubro de 2011
ACMUN - Associação Cultural de
Mulheres Negras
AMB - Articulação de Mulheres
Brasileiras
AMNB - Articulação de Organizações
de Mulheres Negras
AMARC - Associação Mundial de
Rádios Comunitárias
ANDI - Comunicação e Direitos
ARPUB - Associação das Rádios
Públicas do Brasil
Assessoria de Comunicação do
Instituto Federal do Paraná
Associação Ilê Mulher/RS
CBC - Congresso Brasileiro de Cinema
CCLF - Centro de Cultura Luiz
Freire/PE
Centro de Estudos da Mídia
Alternativa Barão de Itararé
Centro de Promoção da Cidadania e
Direitos Humanos Padre Josimo - Imperatriz/MA
Cipó - Comunicação Interativa/BA
Ciranda - Central de Notícias dos
Direitos da Infância e Adolescência/PR
CNC - Conselho Nacional de
Cineclubes
Coletivo do Mandato da Vereadora
Professora Josete (PT-Curitiba/PR)
Coletivo Soylocoporti
Comunidade Bahá'í do Brasil
COMULHER - Comunicação Mulher
CCM - Conselho Comunitário de
Maricá/RJ
CUT - Central Única dos
Trabalhadores
FALE RIO - Frente Ampla pela
Liberdade de Expressão e pelo Direito à Comunicação - RJ
FAMMAR
- Federação das Associações de Moradores de Maricá/RJ
Federação Pernambucana de
Cineclubes - FEPEC
Fopecom - Fórum Pernambucano de
Comunicação
Fórum de Comunicação Democrática
do Sul Fluminense
Fórum Goiano de Mulheres
FRENAVATEC - Frente Nacional de
Valorização das TVs do Campo Público
GAJOB - Gabinete de Assessoria
Jurídica às Organizações Populares
Griô Produções
Grupo Cactos, Gênero e Cidadania -
Paulista/PE
Grupo Curumim/PE
Grupo de Teatro Loucas de Pedra
Lilás/PE
Grupo Feminista Autônomo "Oficina
Mulher"/GO
IDEC - Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor
Instituto Patrícia Galvão - Mídia
e Direitos
Instituto Telecom
Intervozes - Coletivo Brasil de
Comunicação Social
MNDH - Movimento Nacional de
Direitos Humanos
MPB - Movimento Música para Baixar
MST - Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra
NPC - Núcleo Piratininga de
Comunicação
ODDPM - Organização de Defesa dos
povos e das Missões/RJ
ONG Sentinela Ambiental
Partido Comunista Revolucionário -
PCR-Brasil
Pretas Candangas
Rede Mulher e Mídia
REDHMC - Rede Estadual de Direitos
Humanos e Moderadores de Conflitos/RJ
SINDEPPERJ - Sindicato dos
Empregados em Previdência Complementar Privada do RJ
Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Distrito Federal
Sindicato dos Jornalistas do Estado
do Rio de Janeiro
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