25 de abril de 2011

Deus, a única certeza

Carlos Pompe *


Perseguição implacável
Finda mais uma semana em que a religião invadiu os noticiários e comentários nos meios de comunicação. Ela começou com o papa Bento XVI, celebrando o Domingo de Ramos (data móvel, 17 de abril, este ano), ameaçando os que percebem que a tecnologia pode substituir (e com vantagem, diga-se de passagem) Deus. O chefe supremo da seita católica continua apregoando seu irracionalismo e noticiado como grande novidade – e, ai de nós, o número de adeptos às várias crenças vai aumentando, contra todas as evidências da materialidade do mundo que nos cerca.

Assim falou o Pontífice: "Desde o princípio o homem e a mulher possuem - e isso agora é mais verdadeiro do que nunca - um desejo de 'querer ser igual a Deus', de atingir o posto de Deus através de seus próprios poderes" – aliás, disso ele entende bem, pois considera a si mesmo o porta-voz infalível do Deus cristão na terra. Marx e Engels, pés na terra, diziam que foi o contrário: os homens é que criaram Deus à sua imagem e semelhança. E o mito de Jesus é exatamente o caminho oposto do criticado pelo papa: Deus querendo ser igual ao homem.

O líder do Vaticano não teve como negar que os grandes avanços científicos trouxeram melhorias de vida – inclusive possibilitando o fim da maldição divina da mulher sofrer dores ao parir. Fez uma referência confusa ao fato do homem não ser todo poderoso. Demonstrou isso citando a impotência humana diante dos recentes desastres naturais que devastaram regiões do globo. Em verdade voz digo: eles também não foram evitados nem pelo Deus judaico-cristão, nem por outro qualquer. Creem no Deus de Bento XVI, segundo dados da Igreja Católica Romana, mais de 1,2 bilhão dos quase 7 bilhões de habitantes desta Terra sujeita a misérias que deixam até os deuses em estado lastimável.

No Brasil, nas proximidades de alguns templos, de várias seitas, chega a congestionar o trânsito e faltar estacionamento na hora dos cultos. Docilmente, as pessoas se deixam conduzir pela ideologia dominante para sessões de irracionalismo absoluto, e ainda carregam consigo crianças indefesas para essas reuniões embrutecedoras da mente. Nas redações e no comando dos grandes meios de comunicação, temas religiosos invadem as pautas a respeito de todo e qualquer assunto, sempre abonando, jamais abordando com distanciamento e objetividade, qualquer manifestação de fé, do arcebispo ao cientista, do pastor ao artista, do acadêmico ao analfabeto.

A cobertura dada ao recente episódio de um maluco que matou e feriu crianças numa escola em Realengo foi um verdadeiro ai-Jesus! Primeiro, evocou-se a possibilidade do criminoso ser islamita. Depois, ficou evidenciado que era cristão (citava Cristo nas suas mensagens). Quando autoridades chamaram um arcebispo para celebrar um culto na porta do estabelecimento de ensino, com a presença de representantes de outras religiões, uma repórter global chegou a dizer que aquela era “a maior homenagem que as vítimas estavam recebendo”...

Tanto o católico quanto os demais sacerdotes manifestaram seu pesar e fizeram cara de que aquilo não tinha nada a ver com eles. Mas a única certeza na cabeça do assassino, confessada no seu escrito, era a sua crença em Deus e na decorrente divisão arbitrária e desumana do mundo entre puros e impuros – entre fiéis e infiéis, no preconceituoso e arrogante vocabulário religioso. E isso nos invade lares, locais de trabalho, escolas, associações, entidades de classe, clubes recreativos. Um Deus nos acuda, enfim. Um massacre.
* Jornalista e curioso do mundo.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.

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