25 de fevereiro de 2011

Intolerância religiosa contra wiccanos – preconceito ou ignorância?

Comissão de Combate à Intolerância Religiosa

A intolerância religiosa há muito faz parte da história da Wicca, e seu episódio mais famoso foi a "Santa" Inquisição. Ela foi inicialmente instituída para combater os chamados "hereges": grupos religiosos que praticavam a adoração às divindades pagãs, bem como seus sincretismos e rituais agrários, que nada mais eram que saberes populares passados de geração a geração, sem nenhum contesto religioso. Durante a Inquisição, milhares de bruxas, bruxos e paganus foram torturados e mortos. Nós, wiccanos, somos herdeiros espirituais destes que foram assassinados em nome de uma divindade que pregava o "Amor".
Hoje em dia, estamos engajados nesse movimento contra a intolerância religiosa e, atualmente, este tem sido um dos assuntos mais discutidos em nosso meio. A questão da intolerância preocupa tanto os que estão começando na prática wiccana quanto os sacerdotes e sacerdotisas que já trilham nosso caminho há algum tempo. E a pergunta mais frequente é: "Como devemos lidar com os adeptos de outras religiões que nutrem preconceitos contra a Wicca e o neopaganismo?"
As agressões são de vários tipos e acontecem no âmbito familiar, na escola, no trabalho e nos mais diversos meios sociais. Na maior parte, as pessoas que nos discriminam, quer com palavras ou ações, não conhecem nossa religião, e são vítimas desse enorme movimento religioso que visa a deturpar tudo que lhes parecem demoníaco ou fora de sua compreensão.
A intolerância é uma doença, e, de tempos em tempos, torna-se uma epidemia, um mal social que atinge uma imensa camada da população global, que fere a dignidade humana e a liberdade de expressão. Ela se baseia no preconceito, na discriminação, no pretenso monopólio da verdade e no fundamentalismo. Aqueles que praticam a intolerância religiosa acreditam possuir alguma "procuração divina" e, em nome de sua fé, sentem-se no direito de achincalhar, invadir, espoliar, prender, torturar e, por fim, exterminar o diferente.
Mas essa grave doença tem cura, e seu tratamento começa pela educação e esclarecimento, pois toda a violência surge do medo, e o medo advém da ignorância. Para tanto, são necessárias ações intensivas e continuadas de sensibilização e conscientização da população, e uma política de educação para a tolerância, a compreensão e o respeito à diversidade, que deve começar na pré-escola e se estender a todas as idades. Aliado a isso, também são necessárias ações que coíbam os casos persistentes de intolerância, como a detecção, sua denúncia junto aos órgãos competentes e a exigência do cumprimento das leis por parte da sociedade.
Elie Wiesel, no Foro Internacional sobre Intolerância (1997: Paris, França) disse: "Na religião, o ódio esconde a face de Deus. Na política, o ódio destrói a liberdade dos homens. No campo das ciências, o ódio está a serviço da morte. Na literatura, ele deforma a verdade, desnaturaliza o sentido da história e encobre a própria beleza sob uma grossa camada de sangue e de feiúra. Insidioso, dissimulado, o ódio insinua-se na linguagem, como no olhar, para perturbar as relações entre um homem e o outro, uma comunidade e a outra, um povo e o outro".
Esse ódio nada mais é que a intolerância, e que devemos encarar como uma espécie de prevenção contra o dogmatismo, para que este não se torne fanatismo (na dimensão pessoal), fundamentalismo (na dimensão religiosa) e totalitarismo (na dimensão de Estado ou de Governo).
É fato que aprendemos hábitos, conhecemos coisas, refletimos sobre ideias e teorias, mas nossa educação não ensina sobre como devemos nos relacionar com o outro. No fundo,  tendemos a ver o outro como um oponente. O problema existencial do ser humano é conviver com o que é tolerável em relação ao outro. Fica a cargo da ambiência cultural e do desenvolvimento psíquico aprendermos a superar nossa onipotência narcisista, infantil, que abriria caminho para um radical e efetivo "exercício da tolerância", ou seja, aceitar a conviver com o outro como ele é e pensa.
O que não pode e não será mais tolerado é a própria intolerância. E, para que possamos construir uma sociedade mais justa, devemos parar de ser tão tolerantes ao ponto de tolerarmos todas as ações intolerantes ou entendermos de uma forma torta seus motivos. Não quer dizer que trataremos com desrespeito, pois é isso que nos difere. Mas não queremos mais ser tolerados, queremos ser respeitados.

Escrito por Og Sperle
Sacerdote bruxo da religião Wicca
Sumo-sacerdote do Temenos Aetós Thesmophoros (Tradição Heládica)
Conselheiro da União Wicca do Brasil – UWB
Diretor da União Cigana do Brasil – UCB
Membro da CCIR – Comissão de Combate a Intolerância Religiosa
Editado po Ricardo Rubim
 
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