Pe. Vicente Laurindo de Araújo - Vigário de São Pedro Apóstolo - Alecrim
O tema Religiões da Humanidade, mais que curiosidade, desperta interesse, inquietação, pasmo, além de suscitar necessidade de aprofundamento de questões decisivas, referentes à própria natureza humana, já que as Religiões, como hoje conhecemos, estão presentes em 80% das formações sociais civilizadas, em todos os continentes, sem excluir aquelas formações, que ainda estão vivenciando estágios classificados como primitivos. Isto nos permite uma interpelação a qual o homem não se pode furtar: é o homem naturalmente religioso? Pode ele dispensar-se de tratar, em sua vida particular ou social, questões que se manifestem naquilo que se cristalizou, ao longo do tempo e dos espaços, nos complexos e ricos conteúdos de todas as Religiões, com destaque, para aquelas Reveladas e Monoteístas? Subjacente a todas as manifestações culturais dos homens, como desconhecer a presença indissociável do simbólico, do mito e dos ritos? Não seria por aí que se encontrariam as dimensões, mais caracteristicamente humanas, quais sejam: suas decisões ético-morais, no limite entre a liberdade e a fé religiosa? Por essas duas convicções basais, os seres humanos conscientizados, se ameaçados em sua vida de fé ou, por razões patrióticas, são capazes de entregar, livremente, suas vidas para o martírio. É que, no mais profundo do ser humano, liberdade e fé se confluem.
Mas a essência da Religião não está nos seus mitos, ritos, deuses ou sacerdotes. Se a essência da Filosofia é unificar e, a da ciência é explicar, a essência da religião é estabelecer um sentido para a vida do mundo. Isso equivale a criar o sagrado. Consciente da insuficiência da palavra e da visão humana, a religião estabelece o que revela o Santo, o Absoluto, o Incondicional e o Inefável. O que permanece sempre, enquanto tudo se transforma. O que transforma o mundo de ‘caos’, em ‘casa’ habitável. O que dá sentido e orientação à existência humana. Há um mundo inaudito que desafia, crentes e descrentes, introduzindo-os, no limiar dos mistérios. Esses são a matéria prima, da qual se formou as Religiões, cada uma, com mensagem e proposta de humanização, de missão e de salvação específicas, o que permite, para sua maior compreensão, que delas se façam classificações, a partir de critérios, previamente, definidos.
Tais classificações se afirmam a partir de pontos de vista e, de interesses: expansão geográfica; conceito de Deus; conteúdo ideológico; e, relação com a cultura. Fala-se de religião afro-brasileira; religiões monoteístas; politeístas; panteístas, como se pode ver: a) Religiões Primitivas, por expressarem a sacralidade de maneira acrítica e, pré-reflexiva. A origem de quase todas as religiões são pouco sistematizadas e refletidas, com alto teor de magia; b) Religiões Sapienciais, acentuam mais a meditação, a sabedoria, sobretudo, os preceitos que fazem parte dos códigos fundamentais de boa convivência humana e, que podem ser transmitidos de geração em geração e, em razão da fé; c) Religiões Proféticas, predominam nas religiões reveladas, monoteístas e históricas. Os conteúdos e exigências de Deus são manifestados por seus porta-vozes, os profetas que, verbalizam, de forma contundente, as exigências da divindade, sobretudo, no plano ético-moral e, da justiça; d) Religiões Místicas ou Filosóficas, são aquelas que se manifestam, predominantemente, pelas experiências subjetivistas, com seus dogmas e sua moral, seus rituais, a busca do Absoluto, do Sagrado, em si, e, por si, girando sempre em torno do homem, e, não de Deus. “Contudo, a Religião é digna e defensável, quando trata o homem como fim e, Deus como o Fim,” aquele que é tudo para todos!”
Fonte: Tribuna do Norte
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