06 de setembro de 2010
Preconceito e cultura da paz
“Onde há preconceito não há paz”, resumiu o professor baiano Ordep Serra em sua apresentação no domingo, 5 de setembro, na roda de convivência sobre Preconceito e Cultura da Paz. Ele participou enquanto representante dos povos de comunidade de terreiro e explicou que a violência nos terreiros começou de forma simbólica, com insultos. “Hoje, a violência ocorre de forma cruel, física, são invasões a templos sagrados, assassinatos e o que mais me deixa impressionado é o silêncio dessa violência”, confessou.
Violência e preconceito, que podem ser potencializados quando se mistura raça e gênero. “Sou pobre, negra, mulher e moro em um lugar de prostituição. Moro em um dos guetos que foram criados no entorno de Brasília, um local que era usado para guardar caminhões, chamado de Posto 7″, contou a rapper Vera Verônica. Sua aproximação com hip hop foi por meio da banda Câmbio Negro, após ouvir uma música que a fez ter vontade de quebrar o silêncio. “No começo foi muito difícil, pagava para entrar nas festas e pedir para as pessoas ouvirem minha música. Para ser aceita, precisei me caracterizar, me masculinizar. Hoje tenho meu espaço e sempre digo às meninas que estão começando que mantenham sua feminilidade, sua beleza”.
O hip hop a fez ter vontade de terminar o ensino médio, que ela tinha largado por achar que jamais teria uma chance. Do ensino médio veio a graduação, o mestrado e agora ela está se preparando para o doutorado. Há oito anos, Vera Verônica dá oficinas de hip hop em escolas. “Ficou muito mais fácil depois da Lei 10.639 (que determina o ensino da história e cultura da África nas escolas), porque antes os diretores sempre tinham uma desculpa, mas agora uso a lei para oferecer as oficinas”. Vera Verônica ainda prepara um livro de atividades pedagógicas com músicas de rap e a previsão é que fique pronto até o final do ano.
Para o índio Haru Xinã Kuntanawa, que faz parte dos 12 povos do tronco lingüístico pano, a paz tem haver com integração, união e respeito. “Eu preciso entender o significado do símbolo do outro para poder respeitá-lo. O que significa para o povo de santo uma roupa branca? O que significa para os índios seus cocares? Nossas penas não são enfeites, elas fazem uma ligação com o grande espírito. Para nós não há países, há o planeta”, explicou.
Segundo ele, o Brasil não foi descoberto, foi devastado e precisamos aprender a descobrir o Brasil. “Precisamos cuidar dos homens e das mulheres, mas precisamos também cuidar do que os mantêm vivos”.
Além dos participantes da roda que deram suas contribuições no debate, ainda apresentaram suas experiências Maria Jonas Strighini Sanginé, que tratou sobre idosos e Lúcia Regina, que falou sobre as mulheres.
(Rachel Mortari, SID/MinC)
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