1 de setembro de 2010

A Construção Histórica da Literatura Umbandista

Posted by alexdeoxossi em agosto 18, 2010
Comentários sobre o livro “ A Construção Histórica da Literatura Umbandista” de autoria de Diamantino Trindade
Por que Diamantino Trindade está entre os melhores autores de livros sobre Umbanda? Porque tem autoridade, competência, como ele mesmo revela é um iniciado, um historiador do cotidiano da Umbanda, dono de um acervo imenso de livros e informações de inestimável valor. Podemos arriscar em dizer que na verdade, ele é o melhor historiador da nossa amada Umbanda.
Este livro mostra, dentro do contexto histórico-religioso, a inegável vocação magística da Umbanda através da magistral disciplina do autor, sua segura orientação, conhecimento e domínio do assunto relatado.
Lendo Diamantino, vê-se uma plêiade de escritores orientados pela espiritualidade, uns crendo nas raízes milenares da Umbanda, enquanto que antropólogos e cientistas sociais, a maioria não praticamente, ancoram suas idéias sobre as suas origens africanistas. Pouquíssimos pelo que se vê aqui, aludem ao não menos importante , Sr. Zélio de Moraes, o início da história da Umbanda, embora todos concordem que o Caboclo das Sete Encruzilhadas foi no grande baluarte propulsor dessa região em nossa pátria.
Percebemos que Diamantino Trindade percorreu todas as tendas fundadas pelo Caboclo, além de outras dezenas de centros e instituições umbandistas, obtendo direto da fonte ricos registros históricos de cada uma. Agradeceu com carinho e dedicou de coração a obra ao Sr. Zelio de Moraes e às suas filhas, a Matta e Silva, médium de Pai Guiné, ao babalorixá Ronaldo Linhares, a Alexandre Cumino e a Àtila Nunes Filho e Atila Nunes Neto pelos 60 anos do Programa Melodias de Terreiro. Todos são figuras fáceis do grande desfile de obras e conhecimentos, e importantíssimo pelos papeis que cada um desempenhou a seu tempo.
Logo no início do livro, Diamantino fala de Leal de Souza, do estudo e do livro que fez sobre sua vida, e relata sobre o poema dele que foi psicografado por Chico Xavier, chamado Morte e reencarnação. Também conseguiu achar as mais de 10 obras escritas por este umbandista das primeiras luzes desta religião, além de lembrar que ele foi dirigente da tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, sendo lhe entregue o cargo pela Sra. Gabriela Dionysio Soares, sua fundadora em 1918.
A respeito do 1º Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, fala que inicialmente pretendia-se um Congresso de expressão nacional, mas foi na realidade apenas um evento local. Mas muita coisa foi dita e está transcrita e comentada no livro, onde se denota o grande fervor de seus participantes, como podemos ver no discurso inaugural:
…”No espiritismo de umbanda, algumas centenas, e até milhares de entidades (pertubadas e pertubadoras), podem ser conduzidas em cada uma das nossas sessões de trabalhos.”.
Outro grande tema deste Congresso foi a explicação da origem etimológica da Umbanda, e em contrapartida, em 1961, Diamantino explica que Cavalcanti Bandeira, autor do grande livro inspirado pelo Caboclo Mirim, chamado “ Okê Caboclo!” apresentou nova teses sobre a palavra e origem da Umbanda. Além disso, relata, embora dê a entender que o 3º Congresso não teve muita expressão, foi após dele que proliferaram as Federações e Associações de Umbanda, e nelas desenvolveram grande projetos caritativos e sociais.
Em outro capítulo, há uma curiosa explicação sobre a origem das imagens aberrantes dos exus, comercializadas nas casas de produtos religiosos de Umbanda, onde afirma do desserviço do Sr. Lourenço Braga, com conceitos equivocados sobre a religião e seus fundamentos, deturpou a imagem e o papel dos Exus, alterando também as linhas de Umbanda.
Neste numeroso desfile de idéias, palavras e expoentes representantes da religião da Luz Divina, Diamantino encontra aqueles que separam a umbanda da quimbanda, outros que inserem a segunda na primeira, outros que seguem de perto muito espiritismo preconizado por Kardec, outros ainda que introduziram muitos componentes orientais, além do que outros afirmam ser a Umbanda uma religião de raízes apenas africanas. Conseguiu nesse cadinho de opiniões sedimentar os alicerces do que representa hoje a Umbanda para nós, sem qualquer vestígio de contradição, sectarismos ou interferências pessoais. Foi primoroso e fiel relator do início ao fim.
Seguindo uma trajetória cronológica, o autor desta obra faz importante constatação: afirma que o movimento umbandista teve três eventos importantes para se implantar em terras brasileiras: o primeiro no final do século XIX, com o Caboblo Curuguçu; o segundo, na 1ª metade do século XX, com Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, e na década de 50, ocorreu o terceiro evento por intermédio de W.W. da Matta e Silva, Mestre Yapacani. Segue falando da obra deste magnífico umbandista, sua luta, mas estes detalhes devem ser saboreados com calma, quando o leitor adquirir o livro na íntegra.
Como não poderia deixar de fazer, Diamantino fala de Àtila Nunes e sua família. Àtila Nunes escrevia no jornal “Gazeta de Notícias” na coluna “Gira de Umbanda”. Nestas anotações, nota-se a coragem e despreendimento, em mostrar seu apreço por respeitar as tradições umbandistas, dentro de seus fundamentos, criticando o excesso de exposição de alguns umbandistas frente aos meios de comunicação.
Eis um trecho: “ …É nosso dever mostrar a nossa convicção, mantendo as nossas tradições e tudo aquilo que herdamos dos nossos antepassados”. Finalizando desse modo; “ Acima de tudo, a dignidade da nossa crença, dos nossos irmãos, de tantos que dão tudo de si pelo bem de todos!”
Àtila Nunes Filho e Àtila Neto continuam empenhados na união dentro da Umbanda e seu reconhecimento por toda a nação.
Já sobre o Capitão Pessoa, fundador e dirigente da tenda de São Jerônimo, podemos refletir sobre um pensamento seu, sem nos prolongarmos e interferirmos no prazer do leitor sobre o texto na íntegra: “…Porque vaidade, em termos de espiritualismo umbandista, é ingenuidade, quando não ignorância, idiotice, burrice.”
Prosseguindo neste primoroso desfile de autores umbandistas, há um capítulo sobre o Sr. Cavalcanti Bandeira, que escreveu a importante obra “O que é a Umbanda”, em 1973 , excelente obra com conceitos esclarecedores sobre exus, sendo adepto da origem africana do termo Umbanda. Esta obra, tal como a maioria dos antigos livros de Umbanda, só se encontram, de forma rara, em sebos, atualmente.
Há um capítulo sobre Roger Feraudy, que escreveu noticiando lembranças de um Universo perdido no tempo, um fio conector com a Umbanda. Por exemplo, um dos seus livros, chamado “A Terra das Araras Vermelhas”, mostra a raça vermelha, muito anterior ao atual povo que habita o Brasil.
E assim por diante, Diamantino recheia o texto com uma escrita clara, direta, prazeirosa de ler, concluindo um trabalho de vasta e profunda pesquisa, inequivocamente necessária para todo umbandista, como também para qualquer estudioso das religiões. Livro para ficar à mão fácil de achar, pois com certeza nele iremos a todo momento para relembrar fatos e reavivar a memória dos grandes acontecimentos da história de nossa querida Umbanda. Mesmo as polêmicas, as dissensões, tudo faz parte da construção e solidificação da mesma, e temos de ficar de pé para aplaudir.
Para finalizar, não resistimos e transcrevemos uma passagem, escrita no “Jornal de Umbanda” de 1954, por Matta e Silva, e utilizaremos este singelo comentário, que teve por objetivo parabenizar Diamantino Trindade por esta obra que é uma de suas melhores, entre outras tantas e tão instrutivas .
…”Senão, ouçam e entendam o que quero dizer: nós que somos trabalhadores de todas as noites, veículos desses orixás que nos ensinam a existência dessa mesma umbanda; nós, primeiro a sermos esclarecidos em seus fundamentos, que amassamos seu pão de cada dia e nos sentimos ferir os seus espinhos…é que somos os mais indicados a distribuir suas pétalas…pois sabemos , elas existem no jardim da Luz e do Merecimento, espargindo sua essência aos sequiosos e aflitos que buscam seu seio como guarida.”
Alex de Oxóssi

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