Enviado por Matheus Vieira - 19.09.2010
Consegue imaginar um padre, um cigano, um pai de santo, e outros representantes religiosos em cima de um trio elétrico, brincando de trenzinho? A cena, que parece utópica, ocorreu ontem na tarde deste domingo, na 3ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que reuniu 120 mil pessoas na Praia de Copacabana.
Representantes religiosos brincam na passeata
O babalaô Ivanir dos Santos, representante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, explicou que a iniciativa reivindica a criminalização da intolerância religiosa, já garantida por lei, e a aplicação da lei 10.639/2003, que obriga o ensino de história africanas escolas.
— Seria fundamental para a autoestima deste grande segmento da sociedade. E além do mais, a intolerância só vai acabar quando conhecermos a fundo o outro — reforçou.
A presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil concordou. Ela mesma disse já ter discriminado o candomblé, antes dos 20 anos, quando ainda não conhecia a religião que veio a adotar. Para ela, o preconceito contra as religiões vem diminuindo, mas ainda é forte.
— Achamos um panfleto dizendo que a umbanda é assassina, que distorce pessoas puras, que é macumbaria. É um ato criminoso, ainda mais diante de uma grande união de religiões como esta. Deus deve estar nos olhando lá de cima feliz, ao ver todos os seus filhos de mãos dadas — disse Fátima.
O convívio amigável entre as diferentes crenças era nítido na passeata. Pároco da igreja Santo Antonio dos Pobres, no Centro, padre Sérgio Marcos reuniu alguns fiéis para marcar presença. E aproveitou para cumprimentar algumas fiéis do candomblé.
Padre Sérgio Marcos, de igreja do Centro, com Doné Glória do Oxum, fiel da umbanda
— Se engana quem pensa que só religião de origem africana sofre preconceito. Todos sofremos. Católico vive sendo chamado por aí de adorador de imagens, e não é exatamente isso que a nossa doutrina ensina. A tolerância tem que começar no seio das religiões, e é isso que o Papa e a Arquidiocese estão defendendo — explicou.
Fiel do candomblé há 30 anos, Doné Glória do Oxum disse que sente na pele o preconceito.
- Se a gente está de branco na rua, todo mundo fica olhando. Já teve gente me chamando de macumbeira, de filha do diabo, do encosto. Por isso, procuro conviver bem com todas as religiões. Perto da minha casa, em Sepetiba, tem uma igreja evangélica, e todo mundo me respeita bastante - afirmou.
A harmonia entre religiões extrapolou o diálogo. Deu-se também em música, coreografias e toda sorte de manifestação artística. A maior parte da passeata era aclimatada por repertório das mais variadas influências africanas. Mas havia espaço também para música cigana, com muitas cores e incenso.
Caminhada contou com música e dança cigana
- Se no próprio dicionário estamos definidos como trapaceiros e vagabundos, as pessoas vão achar que somos ladrões mesmo. Essa passeata é fundamental para que todos possam conhecer o que nossa cultura quer manifestar - diz o presidente da União Cigana do Brasil, Mio Vacite.
Fonte: Religião e Fé - Extra On Line
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