Por Jim Lobe, da IPS
Washington, 16/10/2009 Indígenas, afrodescendentes e mulheres da América Latina recebem salário muito menor do que os homens brancos da mesma faixa etária e nível educacional, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O informe "Novo século, velhas disparidades: brechas de salários por gênero e etnia na América Latina", apresentado esta semana em Washington, conclui que tais diferenças tendem a ser mais pronunciadas no setor privado. O estudo baseou-se em pesquisas domiciliares feitas nos últimos 15 anos em 18 nações da região.
Em média, as mulheres ganham 17% menos do que os homens de sua mesma idade e nível de instrução, afirma o documento. Para as minorias definidas como pessoas que nas pesquisas domiciliares descrevem a si mesmas como indígenas, negras, mestiças ou de uma língua originaria a brecha é ainda maior: 18%, em média. "As políticas destinadas a reduzir estas desigualdades estão ausentes. Superar essa situação é mais do que um imperativo moral. É uma estratégia essencial para reduzir a pobreza na região", afirmou o autor principal do estudo, o economista do BID Hugo Ñopo.
A pesquisa compara os salários entre indivíduos das mesmas características geográficas e trabalhistas, tendo em conta idade, nível de instrução, lugar de residência e tipo de emprego. Além de Brasil e Bolívia, o informe inclui estudos específicos sobre Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela e os cinco países de língua espanhola da América central.
Para a elaboração do informe foi utilizado um novo método criado para medir melhor quais estudos anteriores as características e experiências individuais ao explicar as brechas salariais, em um esforço para isolar os fatores específicos que podem contribuir com estas desigualdades. Ñopo afirmou que os métodos anteriores "tendiam a exagerar o papel da discriminação". Em média, um quinto do total da brecha de gênero em matéria de salários não pode ser explicado com base nas diferenças das características individuais ou trabalhistas passiveis de observação.
Nesse sentido, o estudo detectou que os homens ganham mais do que as mulheres em qualquer idade, para cada nível de instrução, tanto em empresas grandes quanto pequenas e sem importar se trabalham de maneira autônoma, se são empregados ou empregadores. A única exceção foi em áreas rurais, onde as mulheres tendem a ganhar, em média, o mesmo que os homens. A brecha de gênero varia amplamente entre os países. O BID concluiu que os homens ganham 30% mais do que as mulheres de idade e formação semelhantes no Brasil, enquanto no Uruguai este índice é de 26%. Por outro lado, na Bolívia e Guatemala as diferenças foram ínfimas.
A brecha de gênero menor aparece entre os mais jovens com titulo universitário. Isto pode ser explicado pela tendência de mais mulheres educadas terem acesso a postos em empresas maiores, onde os gerentes dispõem de menos condições para fixar salários. De fato, encontrou-se que as brechas são menores entre trabalhadores da economia formal e maiores entre os que trabalham em firmas pequenas ou da economia informal. As maiores diferenças foram registradas entre os trabalhadores de baixa renda que não terminaram o secundário e vivem em áreas rurais.
O estudo também revela que as brechas de gênero aumentam com a idade, tendência que pode ser explicada, ao menos em parte, pelo papel de cuidadoras que as mulheres assumem com os filhos, segundo Ñopo. Para o especialista, é mais provável que as mulheres sejam expulsas do mercado de trabalho após darem à luz. "As políticas que lhes permitem voltar ao emprego, como uma melhor provisão de serviços de cuidados infantis, podem ajudar a reduzir as diferenças salariais", afirmou.
Quanto à condição étnica, dos 18 países o informe cobriu apenas sete (Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guatemala, Paraguai e Peru) porque estes foram os únicos onde as pesquisas domiciliares obtiveram informação deste tipo. Em média, os integrantes de comunidades não minoritárias ganham quase 40% mais do que as populações indígenas que são maiorias demográficas em vários dos países e os negros latino-americanos. Mas, quando se considera idade, gênero e nível de instrução, a brecha cai para 28%.
As maiores diferenças foram encontradas em Brasil (30%), Guatemala (24%) e Paraguai (22%). E as menores no Equador (4%) e Chile (11%). Considerando a variável étnica, as diferenças salariais mais amplas também estão nos extremos da distribuição da renda. Além disso, a maior diferença se registra entre os homens, os trabalhadores mais adultos e os que vivem em zonas rurais.
Ao isolar fatores específicos que podem contribuir para a desigualdade, o estudo afirma que cerca da metade da diferença de salários entre os homens brancos e as minorias pode ser fruto do nível educacional e de uma combinação de outras características individuais e trabalhistas. "As diferenças salariais de origem étnica estão vinculadas a uma segregação ocupacional, na medida em que as minorias se encontram sub-representadas em ocupações de empregadores, onde os salários são maiores", disse Ñopo. "Como na brecha de gênero, é difícil, por exemplo, encontrar minorias empregadas com o perfil típico de um gerente-geral", acrescentou.
Embora as políticas sociais e de desenvolvimento incentivem a universalização da escola, as conclusões do informe apresentam dúvidas sobre a qualidade e a relevância da educação que recebem as populações indígenas. "A baixa qualidade do ensino pode ajudar a explicar o motivo de as minorias pobres terem um retorno menor para sua respectiva escolaridade", disse Ñopo. Além de aumentar a quantidade de creches infantis, o estudo sugere adotar outras políticas que possam ajudar as minorias a superar os obstáculos existentes, entre eles maiores investimentos em educação pública e programas de ação afirmativa em matéria educacional e capacitação. O informe do BID também pede especial atenção às meninas indígenas, que são duplamente discriminadas: como mulheres e como integrantes de comunidades minoritárias. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)
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