4 de dezembro de 2012

Socorro Gomes, Fórum de Porto Alegre e a vitória Palestina

Fonte: Vermelho

Toma Nota! Sou árabe
Arrancaste as vinhas do meu avô
A terra que eu arava
Eu, os filhos, Todos
Nada poupaste...
Pra nós, pros netos
Só pedras, pois não
E o governo, o teu, já fala em toma-las
Pois então!
Toma nota!
No alto da primeira página
Não odeio ninguém
Não agrido ninguém
Ao sentir fome, porém,
Como a carne de quem me viola
Atenção...Cuidado...
Com minha fome... com minha fúria!

(Mahmud Darwich*)

O coração da humanidade bateu forte no dia 29 de novembro, em uníssono com o povo Palestino. No Brasil, a cidade de Porto Alegre recebeu lutadores pela causa Palestina do mundo inteiro, que ali vieram manifestar sua determinação de intensificar a luta pelo Estado livre e soberano do povo palestino. Não foi fácil sua realização, pois as pressões contrárias advindas de grupos sionistas se fez sentir a todo momento.

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No entanto, valeu a pena. Ali, naquele pedacinho do mundo se tratou da construção da unidade na diversidade de opiniões, sobre o melhor caminho, a melhor e mais eficiente maneira de fazer avançar a solidariedade a uma das mais nobres causas da humanidade, a causa do povo palestino. Realizaram-se conferências e debates sobre os principais obstáculos à construção do Estado palestino. Foram feitas denúncias dos crimes de guerra perpetrados por Israel e apoiados pelos Estados Unidos, seja sob governos democratas ou republicanos.

A decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de elevar o status da Palestina a Estado observador foi comemorada no mundo inteiro. Foi a vitória de um povo martirizado há mais de seis décadas, que não desistiu da luta por seu direito de existir. Foi também uma vitória dos povos do mundo que não aceitam que a humanidade seja submetida pela força bruta das armas, através da chantagem e do terror, das guerras de conquista e do genocídio prolongado executado pelo regime sionista de Israel contra o povo palestino. Uma significativa vitória do povo palestino na luta por seu direito de existir como nação, com seu território, suas fronteiras, sua organização livre e soberana, independente, para onde possam retornar milhões de refugiados.

Os ativistas e as organizações do movimento social que compareceram ao Fórum Palestina Livre foram atacados por frases altissonantes e ameaçadoras daqueles que tentaram impedir a sua realização - “um foro de apoio ao terrorismo” diziam, um “foro contra o Estado de Israel, a maior democracia do mundo”. Estas afirmações estavam em absoluto contraste com o clima de cordialidade, fraternidade, unidade, apesar das diferenças, e do compromisso com a paz que nortearam a determinação de aprofundar a denúncia dos crimes de guerra de Israel, as prisões ilegais, o muro da vergonha, os chekpoints, os assassinatos dos pescadores palestinos pelo exército de Israel, demonstrando a clara consciência de que para conquistar a paz no Oriente Médio, é necessário reconhecer e garantir o Estado Livre e Soberano Palestino Já.

A intimidação, a chantagem, as ameaças hostis e de cometimento de mais crimes de lesa-humanidade, vieram da boca do primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu, ao anunciar a determinação de dar continuidade às ações criminosas contra o povo palestino: a construção de mais três mil casas na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, território palestino. O governo israelense anunciou mais ações criminosas na sequência da vitória palestina na ONU: não repassará o dinheiro do Estado palestino, dinheiro dos impostos pagos pelo povo palestino. Todas estas declarações e ações, que denotam ódio e vingança, feitas logo em seguida à aprovação do Estado da Palestina como Estado observador na ONU, são tentativas de aterrorizar, de impedir que o direito dos palestinos prevaleça. Ao mesmo tempo, o regime sionista anuncia que não respeita as decisões da ONU, como nunca respeitou ao longo destas décadas de horror para os palestinos. Assim é que para os povos vai ficando muito claro quem não quer a paz e se opõe ao diálogo no Oriente Médio.

O governo de Israel busca o caminho da intimidação e da chantagem para tentar impedir que o povo palestino siga adiante e não hesita em usar seu exército, um dos mais armados da face da terra com seus tanques e suas bombas, para eliminar fisicamente centenas de palestinos, não importando se homens, mulheres e crianças.

O regime sionista conta com o apoio do seu grande protetor - “quem disso usa, disso cuida” -, o imperialismo estadunidense, que usa Israel para buscar garantir seu domínio no Oriente Médio, e tem a seu lado a grande mídia como veículo para difundir seu falso cantochão de que busca assegurar sua defesa quando se põe acima das leis internacionais e comete crimes como destruição das casas dos palestinos, o roubo de seus olivais, a apropriação de suas fontes de água, a construção de casas de colonos israelenses nos terrenos de onde arrancaram à força das armas os palestinos que ali nasceram, de pais que nasceram e viveram suas vidas ali naquele pedacinho de chão, que naqueles quintais cavaram o poços para abastecer de água sua família.

As resoluções da ONU sobre os direitos do povo palestino têm recebido total desprezo por parte do Estado de Israel, pois é uma política de Estado a expulsão contínua dos palestinos de sua terra, a limpeza étnica, as prisões cheias de palestinos, desde deputados no exercício de seus mandatos a mulheres e crianças até os assassinatos dos pescadores. Tudo converge para o mesmo objetivo dos sionistas - a usurpação do território pertencente ao povo palestino.

Com o reconhecimento ainda que limitado, por parte das Nações Unidas, do Estado Palestino - destacando que neste processo observa-se também a busca da unidade entre as diversas correntes políticas da resistência - a luta contra a ocupação israelense conquistou uma vitória significativas. Como disse o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas: “Esta foi a vitória da unidade”. Isto nos dá a convicção de que o povo palestino - os desterrados, os presos de guerra nas masmorras israelenses, as crianças perseguidas e torturadas pela ocupação de Israel, a população de um modo geral têm o que comemorar. A política sionista de genocídio prolongado está com os dias contados.

O heroísmo e a luta do povo palestino, junto com solidariedade dos povos, garantirá o Estado livre e soberano do povo palestino, passo imprescindível para a paz no Oriente Médio e um dever da humanidade.

O Fórum Social Mundial Palestina Livre apontou algumas bandeiras de luta, entre outras, pela criação do estado da Palestina Já; contra os acordos militares de Israel com nossos países; boicote aos produtos oriundos das terras saqueadas dos trabalhadores palestinos e entregues aos colonos judeus militarizados.

Saímos do Fórum Palestina Livre, mais fortes e unidos, crescidos em nossa humanidade, com a convicção de que os povos em luta porão fim a esta era de opressão e construirão um mundo de Paz. A causa palestina é causa da humanidade.
Estado da Palestina Já!

Como dizíamos durante o Fórum, “Todos somos Palestinos”!

Mahmud Darwich é poeta palestino

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