4 de abril de 2012

Salvador, aos olhos de Morea


Fonte: Diário do Nordeste

03.04.2012

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Nas obras, o artista expressa suas experiências do tempo em que viveu no Nordeste



































A mostra "Las Américas" reúne quadros do espanhol José Morea inspirados nas paisagens de Salvador

O caldeirão cultural baiano, as cores e caras de Salvador prenderam durante mais de dez anos o olhar do pintor espanhol José Morea. Viajante com um senso de figuração aguçado, durante este tempo ele produziu uma série de quadros onde imprime suas experiências na capital baiana, mescladas a referências de sua cidade natal, Valência, e das outras culturas ao redor do mundo com as quais conviveu. As obras estão reunidas na exposição "Las Américas", em cartaz até o dia 29 de abril do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

A mostra individual de José Morea tem sua primeira edição em Fortaleza - de onde deve seguir ainda para o Memorial da América Latina, em São Paulo e para o Palacete das Artes (ainda em negociação), em Salvador. No MAC, estão expostas cerca de 66 obras de um universo de 94 que compõe a série completa sobre Salvador. A exposição é mais um fruto da parceria entre o MAC e o Instituto Valenciano de Arte Moderna (IVAM), que, em 2010, produziram a exposição "De Picasso a Gary Hill". Um livro-catálogo com todas as obras da exposição também está sendo lançado com textos explicativos em português, inglês e espanhol.

"Morea tem uma maneira singular de relacionar a arte e a vida, que enriquece a experiência humana. Isso tem a ver com o seu próprio enriquecimento cultural", destaca o curador da mostra e amigo do artista, o espanhol Vicente Jarque. Tendo acompanhado a produção de Morea pelos últimos 25 anos, Vicente aponta os quadros da mostra como mais do que uma representação da Cidade e da cultura de Salvador. Para ele, a pintura de Morea faz uma ressignificação daquilo que o pintor encontrou na Cidade, criando pontes, por exemplo, com a cultura indiana, chinesa, japonesa e espanhola.

As pinturas acontecem em diferentes espaços e níveis de percepção, modificados ao longo da estada do artista no Brasil, valorizando temas como os orixás, a praia, expressões da cultura popular e do cotidiano, além de referências históricas.

Salvador
Três espaços distintos da Cidade serviram de ateliê para Morea - o bairro da Ribeira, próximo à baía de todos os santos, a chácara no entorno do bairro de Stella Maris e a região mais conhecida por Desterro, onde fica o Pelourinho.

Em seus primeiros anos na capital baiana, de 2001 a 2004, Morea trabalhou na Ribeira. Deste período são os quadros marcados pelo encantamento do artista com a exuberância do lugar. Os quadros, pautados pelos tipos praianos, pelas paisagens das praias do bairro e as representações de orixás das águas, como Iemanjá e Ogum-marinho. Os quadros exibem cenas leves, de banho de mar, brincadeiras na praia, vegetações exóticas, etc.

Para a segunda sequência, com obras produzidas na chácara, Morea muda completamente sua perspectiva. Longe da praia, ele se coloca em meio à vegetação exuberante que remete a uma realidade mais colonial, e ao mesmo tempo urbana, rodeada de favelas. Lá, ele produziu entre 2005 e 2008. Neste ambiente já menos lúdico que o primeiro, entram referências históricas à etnia pataxó, que habitava a região e praticava o canibalismo - homens e mulheres com aparência de escravos coloniais, além de carregar nas referências a outras culturas.

A última leva de quadros vem da passagem pela região do Desterro, entre 2009 e 2011, localizada no bairro de Nazaré, região onde está localizada o Pelourinho. Apesar de turística, a área revela uma face bastante empobrecida de Salvador, o que se reflete em obras mais sombrias, com menos entusiasmo que as produzidas na Ribeira. As três sequências revelam um caminho de penetração e descobrimento do olhar estrangeiro na realidade de Salvador. Chama atenção, a presença da Pombagira, exu feminino que é recorrente em várias obras da série e que acompanha o artista nos três períodos.

Obra
Seguindo uma tendência expressionista - com personagens deformados que agregam gestos e emoções em suas feições - a obra de Morea é também identificada por Vicente como uma neofiguração. O curador destaca a naturalidade com que ele expõe, de forma lúdica e por vezes surrealista, cenas cotidianas fundidas a representações mitológicas. As cores e o arranjo das telas, destaca, carregam também um pouco da pop arte.

"Ele consegue dar a estes seres mitológicos, a essas divindades ares humanos, os inserindo em cenas cotidianas. E, por outro lado, faz com que pessoas e tipos com que conviveu pareçam figuras de uma mitologia", aponta Vicente.

José Morea é natural da cidade de Chiva, na província espanhola de Valência, e desde o final da década de 1980 viaja o mundo montando ateliê em diferentes países, começando pela Itália, passando pela China, Japão e o Brasil. Durante este período, além dos países onde residiu, realizou ainda exposições nos Estados Unidos, França, Portugal, Suécia, Cuba, Uruguais, Argentina, Chile e Hong Kong.

Mais informações:

Exposição "Las Américas", do artista espanhol José Morea, em cartaz até 29 de abril no Museu de Arte Contemporânea - MAC do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Contato:             (85) 3488 8600      

FÁBIO MARQUESREPÓRTER

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