por Raphael Tsavkko Garcia (18/04/2012)
em Brasil
em Brasil
Uma teocracia em que gays serão mortos sem que haja nenhuma reação,
em que se exilarão para escapar da violência ou simplesmente terão de
viver escondidos, com medo ao passo em que o governo suspende campanhas,
dá declarações pavorosas de que não fará “propaganda de opção sexual” e amplia os poderes de uma casta fanática e intolerante de religiosos ladrões que passam a dar as cartas e definir políticas de “direitos humanos”.
Um país onde índios serão apenas lembrança do passado.
Os que não aceitarem ser aculturados morrerão pelas mãos de ruralistas
amigos do governo, por milícias de “atingidos pelo meio ambiente” ou
serão enfileirados e fuzilados por militares e policiais à serviço de
empresas construtoras de usinas numa prostituição explícita do público
frente ao privado. Sustentabilidade, conservação e meio ambiente serão
apenas fantasia.
O que importa é apenas o “progresso”, mesmo que este seja igual à de
uma ditadura que ficou no passado, assim como os arquivos ficaram
secretos e os criminosos puderam escapar impunes.
A Amazônia será apenas uma vaga lembrança nas mentes dos mais velhos,
contado nos livros de história como uma região que atrasava o progresso
graças a “santuaristas” que cometiam o crime de defender a
biodiversidade, seu uso racional e sua população nativa — agora
aculturada ou morta. Teremos uma região coalhada por hidroelétricas, com
diversos pontos desertos e grandes “desertos verdes” de soja e outros
produtos cultivados com excesso de agrotóxicos, cuja chegada ao Brasil
era intermediada por um antigo líder do governo.
O Brasil será o país em que mulheres serão apenas meros objetos de
prazer, coisificadas nas TVs sem compromisso com o social e nenhuma
função educativa. Entretenimento rasteiro puro, manipulativo, privado,
“midiota”. Mas, claro, nada de garantia de salários iguais, nenhum
direito ao próprio corpo, afinal, um punhado de células no útero terão
os mesmos direitos — ou até mais — que o das mulheres…
A mídia será livre. Livre para mentir, livre para fabricar notícias,
livre para criminalizar os movimentos sociais, e responderá apenas e
exclusivamente aos interesses de seus donos e patrocinadores, igual ao
governo, que apenas responderá aos patrocinadores e para isso investirá
em obras faraônicas e destruidoras como forma de garantir o lucro de
quem tanto investiu em sua viabilidade política.
O povo que ficar no caminho será removido. À força se for preciso e,
se aceitar ser deslocado, receberá indenizações ínfimas e irrisórias
apenas para calar a boca. Se não calar a tropa de choque estará pronta a
usar armas “não-letais” para torturar e, até, matar um ou outro sem que ninguém dê muita importância.
O país estará nas mãos de empresas privadas que controlarão tudo.
Da internet às estradas, passando por aeroportos e, pasme, até nossa
aposentadoria. Isto é, se acharem por bem pagar algo depois de anos de
contribuição, pois podem usar nosso dinheiro como bem quiserem,
inclusive podem perdê-lo no “mercado”, que nada mais é que um jogo de
pôquer bilionário.
O povo será controlado e amansado
por geladeiras com impostos reduzidos, carros zero em mil prestações e
incentivado pela ineficiência cada vez mais acentuada do transporte
público — que de “público” não tem nada, pois é pago, é caro e quase
proibitivo pra imensa parcela da população -, celulares comprados em 500
prestações — sem juros! — e pela promessa de um futuro melhor… Mas já estamos no futuro!
Alguns terão de ser removidos à força de casa para dar lugar ao
progresso ou porque se endividaram nas prestações a juros “camaradas”
mais altos do mundo e irão para ocupações ser massacrados por um aparato
policial imenso e sob o silêncio do governo que preza pelos direitos
humanos (para humanos, o que exclui índios, gays, pobres…).
A intelectualidade será formada por UniEsquinas
subsidiadas pelo governo, ao passo que as universidades públicas
passarão a cobrar um pouco aqui e um pouco ali, especialmente nas
pós-graduações de cursos lucrativos — perfumaria como Filosofia e outros
cursos desimportantes serão fechados por falta de público e/ou
utilidade “prática” dos mesmos. As universidades públicas terão apenas
professores contratados por prazo, como substitutos, sem dignidade, isto
quando não houver claros déficits de pessoal/material/bibliotecas ou
mesmo de estrutura.
Mas as privadas florescerão. Com seus acordos com as igrejas — que
agora são parte do poder e da institucionalidade –, enriquecerão e
crescerão, “formando” cada vez mais pessoas para um mercado mais e mais
precarizante. Os salários dos professores são apenas um pouco maior que o
mínimo, afinal, eles dão aula só por prazer e vocação. E lembrem-se que
a aposentadoria deles não está garantida, pois ela também serve ao
pôquer mercadológico.
Os que não conseguirem chegar lá nem com tanta “ajuda”, poderão
garantir trabalho nas obras faraônicas, mas sem direito à greve, sem
dignidade, levando porrada no lombo da polícia mancomunada com os
interesses privados (com helicópteros alugados por empresas para
policiais apontarem fuzis para o povo ilegalmente em greve), sendo
demitidos por protestar e, claro, garantindo prostitutas
para apaziguar ou arrefecer os ânimos mais exaltados, ideia excelente
de um deputado ligado ao governo e líder sindical anti-greve.
Tudo isto será garantido por uma milícia de consciência. Fanáticos
pagos ou não pelo governo, prontos a repetir incansavelmente os mantras
governamentais e sustentar tudo e todos. Qualquer oposição será
duramente castigada e reduzida a #mimimi. Ameaças serão feitas também, e
virão junto com um ufanismo deslocado
e pseudo-nacionalista, ao passo que nossas riquezas serão
desnacionalizadas e destruídas para produzir produtos primários para
exportação.
Mas, como uma mãe tolerante, esses fanáticos estarão sempre de braços
abertos para receber qualquer “desertor” do outro lado disposto a
fingir apoiar ideologicamente o governo mas que, na verdade, apenas
ajudará a aprofundar a teocracia e a ladroaria geral. Mas serão
“companheiros”, tratados melhor do que qualquer crítico, mesmo o bem
intencionado.
Tudo isso, porém, não será de graça. Teremos um consumismo
desenfreado pautado por juros baixos e muito endividamento. Mas, bem,
consumir é o principal propósito ou razão da vida, não?
Mas o Brasil é o país do futuro, e o futuro já chegou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu contato de telefone, email, movimento ou instituição que participa para melhorarmos nossa rede pela cultura da paz.