"Não tem nenhum tipo de pressão no ambiente da escola. Nós trabalhamos com o fato de que cada educador tem de agir de acordo com sua coerência. Claro que nós sabemos que o Estado é laico, mas ao mesmo tempo, dentro de várias escolas, muitos professores já tinham esta prática. Assim, quem já tinha esse costume continua. Alguns que não tinham agora aderiram e quem não quis, não reza", explica a secretária.
Apesar do debate inicial, agora a situação está normalizada, diz Lidiney, a ponto de até o momento nenhum pai ou aluno ter feito reclamações às diretorias da escolas ou à secretaria. "Não tivemos resistência. Nem de pais, nem do sindicato de professores e nem do conselho social. O que digo é que, dentro da rotina do ambiente escolar, nada mudou".
Diretora da Escola Nuclear Jaripaguá 2, a professora Maria Aparecida Souza concorda com a secretária e diz que, no cotidiano da unidade de ensino que coordena, a lei foi bem recebida e agora se tornou um costume cultivado cuidadosamente. Ela reconhece que há uma diversidade religiosa nas salas de aula e que a reza não é imposta aos educadores e nem aos alunos, mas que em geral tem havido a celebração do Pai Nosso tanto em aulas quanto em reuniões.
A pedagoga Maribel Barreto discorda do fato de que a religião, da maneira como é conhecida, precise estar presente na educação da cidade. Pós-doutorada em consciência e transdisciplinaridade, a educadora argumenta que a existência da lei é um incentivo para que o ensino tenha espaço para instruir os jovens no contato com a dimensão mais intima de seu ser, complementando a educação. Mas para além da doutrina religiosa pura e simples.
Para ela, o momento de reflexão no ambiente escolar deve procurar fazer dos estudantes religiosos no significado original da palavra. "Religião vem do latim religare, que significa reconectar. Então a função desta reflexão é fazer a ligação da nossa parte essencial, a nossa parte mais sutil, que é a consciência. Temos de ensinar às nossas crianças que a vida não é só materialidade. Não dá para cuidar só da dimensão aparente", defende.
A medida tem grandes chances de ser declarada inconstitucional. De acordo com a secretária Lidiney Campos, a polêmica inicial e a repercussão da criação pela lei levaram tanto o prefeito da cidade, Newton Lima, quanto o próprio criador da lei, a uma "reflexão" sobre a necessidade formal da legislação. A pedagoga Maribel está ciente da tendência e sugere à prefeitura de Ilhéus que, se revogar a Lei do Pai Nosso, não aposente o tempo dedicado à oração e o transforme em outras maneiras de convidar os alunos ao autoconhecimento.
"A esperança é a de que eles não percam o tempo. É uma chance de usar essa disponibilidade para propor uma coisa mais eclética, como a meditação. Meditação é uma forma de acalmar o externo e se voltar para o interno. Convidar os jovens a buscar observar o que sentem, não o que pensam. Estimular a sentir as batidas do coração, a respiração, em silêncio absoluto", afirma. Maribel defende também que esta prática, que é exercida em algumas escolas fundamentais e também em cursos superiores em Salvador, seja levada ao ensino público municipal e estadual.
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