Comunidade Cristã Nova Esperança é divulgada pelas redes sociais
Alagoas Web
Depois de conquistar na Justiça o direito de formalizar uma
relação homoafetiva, de adotar crianças e de herdar direitos
previdenciários, a comunidade alagoana de Lésbicas, Gays, Bissexuais e
Trangêneros (LGBT) contabiliza mais uma vitória na luta pelo fim do
preconceito. Isso porque, desde meados deste ano, o Estado possui uma
igreja criada exclusivamente para acolher pessoas que sentem desejo pelo
mesmo sexo, já que ao contrário das demais, nela os homossexuais não
são vistos como pecadores ou indignos de buscar a salvação eterna.
Batizada de Comunidade Cristã Nova Esperança (CCNE), segundo
constatou a reportagem, a igreja destinada a homossexuais chegou
acompanhando a febre de denominações religiosas inclusivas, “que não
tratam e nem vêem a homossexualidade como doença a ser curada”, segundo
evidencia o antropólogo Marcelo Natividade, em sua tese de doutorado
produzida para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ainda
sem sede própria, ela é composta 99,99% pelo público LGBT, e funciona na
residência de um dos seus criadores, em Maceió (AL), cujo contato pode
ser feito por meio do twitter @CCNEMaceio e pelo Orkut.
Com o slogan “uma igreja que acolhe a diversidade humana”, seus
integrantes se utilizam da Bíblia para afirmar que "Deus não faz acepção
de pessoas”, justificando que Ele acolhe a todos, sejam eles
heterossexuais ou homossexuais. Realidade verificada por um dos membros
da igreja, que mesmo preferindo não se identificar, cita o livro de
Eclesiastes para justificar que Jesus Cristo acolhe a todos,
independente da sua orientação sexual. “Se dois dormirem juntos, eles se
aquentarão; mas um só, como se aquentará?”, cita o fiel entrevistado
por nossa equipe de reportagem, ao salientar que “este trecho da Bíblia
seria a prova de que não existem diferenças de gênero perante Deus,
principalmente quando duas pessoas se amam”.
Chocando ou não os mais conservadores, principalmente àqueles que
têm atitudes homofóbicas, os freqüentadores da CCNE afirmam que a igreja
foi criada por pessoas cansadas do preconceito e da intolerância, a
exemplo do reverendo Troy Perry, primeiro pastor assumidamente
homossexual, que em 1968 iniciou a obra de pregação do evangelho para
Gays, Lésbicas Bissexuais e Transgêneros. Para isso, eles não se
preocupam em driblar o versículo 22 do capítulo 18 de Levítico, onde
está escrito que “é uma abominação deitar com o homem, como se fosse
mulher”. Isso porque, segundo defendem os integrantes da mais nova
denominação religiosa alagoana, “Deus não faz acepção de pessoas”, como
afirma o versículo 34 do capítulo 10 do livro Atos dos Apóstolos.
Amparados pela Lei
Ainda de acordo com um dos integrantes da Comunidade Cristã Nova
Esperança, que também preferiu o anonimato, a criação da Igreja está
amparada na Constituição Federal, que em seu artigo 5º estipula ser
inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre
exercício dos cultos religiosos e garantindo a proteção aos locais de
culto. “Nossa igreja evangélica pentecostal é destinada para àqueles que
são excluídos e também buscam salvação, pois temos convicção que os
homossexuais, assim como os heterossexuais, também têm direito a louvar a
Jesus Cristo”, defende, ao informar que a igreja foi criada pelo pastor
Pr. Presidente Justino Luiz, em São Paulo (SP), onde está situada a
sede internacional.
Segundo detalhou o integrante da CCEN em entrevista ao Tudo na Hora
– que visitou o templo com a condição de não identificar os fiéis – ,
denominações religiosas destinadas ao público LGBT foram criadas nos
Estados Unidos da América (EUA) e no ano de 2002 chegaram ao Brasil,
sendo a primeira delas a Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM).
Quanto à Comunidade Cristã Nova Esperança, além de São Paulo e Alagoas,
ela já está presente no Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio de
Janeiro e no Maranhão.
Práticas adotadas
Com relação às práticas adotadas, são realizados cultos assim como
as demais igrejas evangélicas espalhadas por todo o Estado. Com foco na
teologia inclusiva, o integrante da CCNE explicou a nossa equipe de
reportagem que “todos são bem-vindos, independente da sua orientação
sexual, cor, raça, já que a igreja acolhe toda a diversidade humana,
sempre pregando uma mensagem de amor, alegria, vida, vitória, conquista,
dedicação e celebração”, evidenciou.
O integrante da CCNE destacou que são realizados cultos de
Intercessão, da Vitória e de Louvor e Adoração. Também são realizadas
consagrações e celebração da Santa Ceia, onde todos os fiéis também
contribuem com o seu dízimo mensal, assim como ocorre em todas as
igrejas espalhadas pelo mundo. “A contribuição é espontânea e tem como
foco ajudar nas despesas necessárias à realização das reuniões. Mas o
que queremos é oportunizar um espaço de oração e encontro com Deus para
àquelas pessoas que são vítimas do preconceito e se sentem
marginalizadas, pois em nossos encontros todos são iguais e bem vindos,
inclusive os heterossexuais que saibam conviver com a diversidade”,
sentenciou.
Ele lembrou que dois alagoanos radicados no Rio de Janeiro puderam
se casar na Comunidade Cristã Nova Esperança da Vila Valqueire. Bruno
Antônio Bállico, 18 anos, e João Lourenço Neto, 27 anos, migraram de
Alagoas e sacramentaram o relacionamento homoafetivo que ambos mantinham
em abril deste ano.
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