Iberê Lopes - 26 de maio de 2011
É preciso fé cega para aceitar os preconceitos que estão sendo difundidos em nossa sociedade, através de bocas nem tão santas assim. Todo o cuidado é pouco na hora de julgar seu próximo por sua cor de pele,
identidade de gênero, convicção política ou escolha religiosa.
Ao ler um artigo do Sr. Luiz Freimuller intitulado “Como cristãos devem se proteger das ilegalidades supremas?” acendeu a luz vermelha em minha mente. O texto trata das decisões do Supremo Tribunal Federal sobre a união entre pessoas do mesmo sexo. Será que estamos retornando ao mundo apocalíptico das cruzadas, onde diferenças ideológicas e diferentes nominações para a divindade eram motivo para perseguições e assassinatos?
Mais espantado fiquei quando o artigo afrontou a democracia e a diversidade, desrespeitando nossa Carta Magna. “O exemplo do STF revelou uma intenção óbvia: os movimentos da esquerda cultural querem destruir todo o patrimônio cultural e simbólico do cristianismo na sociedade”, aponta o Sr. Luiz Freimuller. É claro que não vou reproduzir todo o restante, pois não é papel de um comunista, umbandista e defensor da diversidade destacar falas tão carregadas de dogmas e tão contrárias aos direitos humanos. Mas é hora de rediscutir as relações do Estado com as instituições religiosas, não é possível que políticas públicas de combate a qualquer natureza de preconceito, como o kit anti-homofobia produzido pelo Ministério da Educação, sejam freadas por não estarem de acordo com convicções divinas desse ou daquele seguimento filo-religioso.
A dignidade da pessoa humana, prevista no Artigo 1º, Parágrafo III da Constituição Federal, deve ser a linha mestra na execução de medidas que previnam violência e isolamento de alguns cidadãos por escolha religiosa e política. O Direito Natural seria possível se todos na sociedade estivessem prontos para exercer o respeito às diferenças, se essa mesma diferença não fosse uma desculpa eterna para as desigualdades. Não é preciso recorrer aos deuses para perceber que negros e homossexuais sofrem mais em seu local de trabalho, são massacrados literalmente por “seres humanos” com concepções retrogradas ao andar pelas ruas. E como se não bastasse devem estar fora do ordenamento jurídico brasileiro por serem “pecadores”. Segundo o Deputado Jair “Reacionaro”, um cidadão que ousar ter postura diferente da “maioria” deve ser castigado para retornar a “normalidade”. E agora aparecem os que querem “salvar almas perdidas na libertinagem” do mundo moderno.
É necessário atentar às guerras civis geradas em outros países pelas mesmas motivações que emergem em nosso diverso Brasil. Já afirmamos a liberdade democrática nos anos 60 e 70, mas pelo visto temos que manter a “fé cega e um pé atrás” para que as tradições medievais não retornem ao seio da sociedade. É necessário que a defesa da laicidade do Estado seja feita por todos. Vale lembrar: Constituição Federal, Artigo 5º, Parágrafo VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. Vamos combater desigualdades com preconceitos ou reverter a lógica da massificação cultural e da reprodução de dogmas?
Por fim, não menos pasmo fico e tenho fé que todos ficarão, é como tratamos nosso próximo em sua individualidade com tamanho individualismo e contradição divina. É preciso compreender que aceitar não implica em concordar. Que tal começarmos por concepções elevadas que Jesus nos ensina de que se tratarmos uma pessoa com desprezo, estamos maltratando uma pessoa criada à imagem de Deus; estaremos ferindo alguém que Deus ama e por quem Jesus morreu.
Podemos refletir sobre esse assunto em uma parada na Avenida Paulista, degustando um delicioso acarajé e matando a sede com um amargo chimarrão em uma homenagem clara a diversidade do povo brasileiro.
Iberê Lopes - estudante, curioso, comunista e umbandista.
iberealsur@gmail.com
Blog da Diversidade Religiosa
Iberê Lopes - estudante, curioso, comunista e umbandista.
iberealsur@gmail.com
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Iberê,
ResponderExcluirParabéns pelo belo texto. Sou umbandista, sem coloração partidária e reconheço no seu discurso um belo ensinamento àqueles que invocam Deus, os ensinamentos biblícos para expressar seu preconceito e desprezo por suposta minoria étnica ou tem uma orientação sexual diferente da deles.Acredito que eles não carregam no coração nem na mente a fé que dizem ter. Ora, se Deus é o senhor de todas as coisas que existem, não há motivo para questionarmos a presença de homossexuais, negros ou outros cultos. Tudo foi permitido por Deus, que nos deu a graça do livre arbítrio para seguirmos o caminho que entendermos melhor. Mas esta liberdade somente será plenamente exercída e roteiro para a libertação se aceitarmos e vivenciarmos o mais importante dos mandamentos: faz ao outro aquilo que deseja para si mesmo.
A perseguição a homoafetivos e negros revela que tais "cristãos" transformaram a Bíblia em arma e não em instrumento para moldar a cultura de paz e a harmonia entre os homens, com bem ensinou o filho de Deus.Naquele tempo e bem antes dele, a homoafetividade estava presente nas relações humanas. Não fosse para existir, Deus não a teria permitido, pois Ele é senhor de todo o universo.
A reação à decisão do Supremo revela o quanto estamos atrasados como civilização. Ainda há quem se importe com quem as pessoas vivem e dormem e não reagem com o mesmo ânimo aos que são corruptos e levianos com o coletivo, que ampliam o lastro de miséria e fome.
Mas ainda assim os tenho como importantes: são exemplos daquilo que devemos lutar sempre para não ser.
Aceite meu abraço fraterno,
Rosane