7 de dezembro de 2010

Bienal da UNE: histórias além de sete capítulos

O passo a passo das bienais ao longo desses 11 anos, uma ousadia que se tornou o maior festival estudantil evento da América Latina



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A 7ª Bienal da UNE dá início, em 2011, à uma fascinante viagem pelos meandros de um importante instrumento de integração social: o samba. Ao longo de 11 anos, desde que surgiu em 1999, as bienais já pautaram temas importantes que casam com as lutas do movimento estudantil, como a herança africana na cultura do país, os vínculos do Brasil com a América Latina, a cultura popular e as raízes de formação do povo brasileiro.



O histórico das Bienais da UNE remonta o próprio percurso da produção artística juvenil ao longo dos anos no Brasil - como se eles interligassem, encontrassem e se confundissem. O Centro Popular de Cultura (CPC), organizado pela entidade na década de 60, por exemplo, é um dos mais bem sucedidos movimentos que revolucionaram a cena artística brasileira.



O CPC, criado no início da década de 1960, no Rio de Janeiro, reunia artistas de distintas procedências: teatro, música, cinema, literatura, artes plásticas etc. O eixo do projeto do CPC se definia pela tentativa de construção de uma "cultura nacional, popular e democrática", por meio da conscientização das classes populares. Participaram do CPC nomes como Cacá Diegues, Ferreira Gullar, Vianinha, entre outros. O golpe militar de 1964 trouxe consigo o fechamento do movimento, a prisão e o exílio político de artistas e intelectuais.



De lá para cá, as questões políticas que envolveram as entidades estudantis - a repressão, a clandestinidade e a reorganização - determinaram um período de instabilidade das atividades culturais ligadas aos estudantes. O trabalho cultural da UNE foi retomado com vigor quando foi criada a primeira Bienal da UNE, em 1999.



"A realização da Bienal foi aprovada no Congresso, no meio de várias realizações. Na verdade, ninguém acreditava muito que sairia do papel. Mas tínhamos na gestão a convicção de que a UNE precisava se modernizar, inaugurar novas formas de comunicação, novas linguagens no contato com os estudantes brasileiros e, para isso, nada melhor do que retomar sua identidade com a cultura nacional. O cenário era de ofensiva neoliberal, um momento difícil. Costumo dizer que a Bienal foi um belo ato de irresponsabilidade que deu certo. Não tínhamos dinheiro, não tínhamos um conteúdo claro, não tínhamos apoio de nada nem de ninguém, mas decidimos, fomos lá e fizemos", conta o presidente da entidade na época, Ricardo Cappelli, o primeiro a realizar uma bienal.



A ideia das bienais deu início à realização de um ousado projeto de resgate do trabalho cultural do movimento estudantil que havia se dissipado ao longo dos anos. A partir dessa data, houve a conscientização da possibilidade de se desenvolver um movimento cultural organizado, levado adiante pela juventude universitária.



Após longa trajetória e seis edições no currículo - todas realizadas com êxito e atraindo mais de 10 mil estudantes - o maior encontro artístico juvenil da América Latina chega a sua 7ª edição.



Abrangendo todas as áreas da produção cultural como música, cinema, teatro, arte digital, literatura e artes visuais, essa edição terá programação voltada para a reflexão do tema "Brasil no estandarte, o samba é meu combate". O propósito é realizar um amplo debate acerca das relações que vão muito além da história musical do país.



"Eu sempre dizia que o principal objetivo da 1ª Bienal era acontecer a 2ª, é que não fosse um evento, mas o início de um novo movimento. Hoje, olhando as edições posteriores e os CUCAs vejo que obtivemos um grande êxito", brinca Cappelli.



A 7ª Bienal celebra os 10 anos do Circuito Universitário de Cultura e Arte, o CUCA da UNE, criado a partir da 2ª Bienal, em 2001. Mais do que ser uma experiência semelhante aos antigos CPCs, o CUCA surgiu como instrumento de valorização da cultura nacional dentro das universidades. Nasceu da necessidade de se criar um mecanismo para manter a produção cultural dos estudantes articulada no espaço de tempo entre uma bienal e outra.



Em pleno funcionamento, com atividades permanentes e programação fixa, os CUCAs existentes no país fomentam com vigor um movimento cultural organizado dentro das universidades. Essa rede interliga a ação entre os diversos grupos artísticos instalados nessas instituições e estimula a participação dos jovens na elaboração de políticas públicas para a cultura e na discussão sobre a democratização dos meios de produção, misturando formas e cores, sons, jeitos e expressões de todo o Brasil.



Histórico das seis edições da bienal realizadas pela UNE

A União Nacional dos Estudantes (UNE) foi fundada em agosto de 1937. Após completar 73 anos, ainda em plena forma, a entidade mantém a ativa participação nos principais acontecimentos que sempre influenciaram as mudanças de rumo do país. Na sua história, também está pintada a marca de ser precursora de importantes movimentos da cultura juvenil.



1ª Bienal - Ciência cultura e arte a favor do Brasil

Com a realização da primeira Bienal da UNE, em 1999, na cidade de Salvador, a entidade retomou seu papel de referência no cenário cultural brasileiro e passou a influir novamente nos rumos do debate sobre a elaboração das políticas públicas para a área.



A Bienal reuniu cerca de cinco mil estudantes, além de diversas personalidades do mundo acadêmico, científico e artístico. A diversidade de opiniões sobre a cultura e seus desdobramentos se deu pelo olhar de artistas como Lenine, Chico César, Jorge Mautner e o grupo Racionais MC's (com uma apresentação memorável)



"Daqui a 40 anos vou contar para os meus netos como foi a abertura da 1ª Bienal. Ela foi construída pela turma da escola de circo Picolino, lá mesmo de Salvador, e dirigida por uma atriz e diretora sensacional. Foram vários números circenses lindos. Iríamos homenagear o Ferreira Gullar pela sua história e ligação com o CPC, mas ele não pôde estar presente. Olhamos para o palco um pouco antes de o espetáculo iniciar e vimos na platéia o falecido ator Francisco Milani, que iria palestrar no dia seguinte e decidimos homenageá-lo. Nem ele mesmo sabia, tudo de improviso, e tudo deu certo. Chamamos o Milani ao palco e entregamos a ele uma caixa. De dentro desta caixa bonita saiu uma menina contorcionista, que entregou ao Milani uma bandeira da UNE. O Milani, emocionado [‘fico arrepiado só de lembrar’], pegou a bandeira da UNE com as duas mãos e contou que ele estava dentro do prédio histórico da entidade, na praia do Flamengo, no dia em que a ditadura ateou fogo na sede”, contou Cappelli ao EstudanteNet.



“Tenho certeza que a grande maioria da platéia não sabia disso, e confesso que nem eu mesmo sabia que o Milani estava lá neste dia triste e histórico. Depois de narrar estes momentos, Milani pegou a bandeira da UNE com força, com as duas mãos e começou a gritar que o que o deixava mais feliz depois de tantos anos era saber que a UNE estava viva, ‘A UNE está VIVA!’, repetia ele emocionado aos gritos. Não preciso dizer que o teatro veio abaixo. Foi difícil encontrar alguém na platéia que não estivesse chorando, emocionado com aquele momento. Foram muitos os momentos marcantes, mas este, pelo improviso, pela força cultural e política, foi o mais marcante", relembra.


2ª Bienal - Nossa cultura em movimento
A iniciativa se consolidou de vez em fevereiro de 2001, com a realização da 2ª Bienal, no Rio de Janeiro, onde começou a discussão sobre uma forma mais contínua de fomentar a produção cultural e artística nas universidades. O "Lado B" (espaço para programação não-oficial) e o "Lado C" (visita e interação com as comunidades dos morros do Rio de Janeiro) foram as grandes novidades. Mas o grande fato que marcou esta edição foi o amadurecimento do trabalho cultural da UNE, que se expressou no lançamento do Circuito Universitário de Cultura e Arte, o CUCA da UNE.








Além disso, nesta edição a entidade propôs que as atividades do festival subsidiassem a reflexão do tema "Nossa Cultura em movimento", instigando uma discussão sobre a diversidade cultural brasileira. Desta vez, mais de oito mil jovens participaram. As presenças marcantes foram Augusto Boal, Ziraldo, Oscar Niemeyer, O Rappa e Tom Zé.

3ª Bienal - Um encontro com a cultura popular

A Bienal realizada em Recife, em fevereiro de 2003, veio para consolidar o projeto CUCA e iniciar a formação de uma rede cultural estudantil organizada nas universidades do país. Naquele ano, a partir da temática "Um encontro com a cultura popular", o festival trouxe uma programação que discutiu a identidade cultural do povo brasileiro. Foi o momento também de avaliar a postura do novo governo eleito em relação às políticas culturais e à valorização da cultura popular. Participaram os ministros Gilberto Gil (Cultura), Roberto Amaral (C&T), Alceu Valença, Marcelo Yuka, Mundo Livre S/A e o escritor Ariano Suassuna.







Até que se chegasse à 3ª Bienal, várias ações e intervenções foram realizadas pelo CUCA. Fundou-se em São Paulo o primeiro núcleo do projeto e a partir daí realizaram-se seminários nacionais. Surgiu o jornal "Encucado" e houve a aproximação do CUCA com grupos artísticos. O projeto de artes plásticas PIA (Projeto de Interferência Ambiental) e o grupo Companhia São Jorge de Variedades são exemplos desse novo diálogo. Etapas preparatórias foram realizadas em diversos estados, como a 2ª Bienal da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) e a etapa mineira, da UEE-MG, em conjunto com o Festival Coração de Estudante de Música Universitária.




4ª Bienal - Soy Loco por ti América








Em 2005, com o tema "Soy Loco por ti América", a 4ª Bienal teve o propósito de provocar uma reflexão sobre as possibilidades da integração do continente, a partir do diálogo entre a cultura e as diversidades de seus povos. O festival ocorreu em São Paulo, paralelo ao XIV Congresso Latino Americano e Caribenho de Estudantes (CLAE), fato que viabilizou a vinda de grande número de participantes de outros países. O tema do congresso, "Outra América é Possível", reforçou a ideia de unidade e integração latino-americana ao propor mudanças na área econômica, política e social. Personalidades como o ministro da educação de Cuba, Vecinno Alegrete; Aleida Guevara (médica cubana e filha de Che); Enio Candotti; Mino Carta; Aziz Ab'saber; Nação Zumbi e Serginho Groisman marcaram presença.






5ª Bienal - Brasil-África: um Rio Chamado Atlântico








No ano da comemoração de seus 70 anos, a UNE retornou à sua casa natal. A cidade do Rio de Janeiro recebeu no verão de 2007, sob as influências dos Orixás, “Brasil-África: um Rio Chamado Atlântico”. Nesta edição a Bienal vai às ruas e ocupa a região da Lapa e da Cinelândia com seus equipamentos culturais, praças e ruas. Intelectuais como Alberto da Costa e Silva e Abdias do Nascimento, o ministro Gilberto Gil, o escritor angolano Ondjaki, músicos como Martinho da Vila, Lenine, Mr. Catra e Beth Carvalho foram as presenças.

Ao fim do encontro uma imensa Culturata ocupou e retomou a antiga sede da UNE, na Praia do Flamengo 132, um marco na luta dos estudantes.






6ª Bienal – Raízes do Brasil: formação e sentido do povo brasileiro











No verão de 2009, a cidade de Salvador recebeu pela segunda vez, os estudantes brasileiros. A reflexão sobre a formação do povo brasileiro no local onde sua atual conformação se deu, orientaram os debates, num festival carregado por atividades ao ar livre.



Num domingo de sol, o Forte foi palco de uma grande celebração. As duas novidades desta edição foram a incorporação dos estudantes secundaristas nas mostras e no público da atividade, além da realização em conjunto com o Conselho Nacional de Entidades de Base – CONEB da UNE, ampliando o caráter do projeto. Marcelo D2, Alceu Valença, Armandinho e Cordel do Fogo Encantado marcaram presença.





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Patrícia Blumberg e Thatiane Ferrari

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