05/09/2010 - 12:32 | Juliana Rocha | Viena
(atualizado às 20h43) Na Áustria, existem três mesquitas com minaretes. Nenhuma delas fica na Estíria, estado no sudeste do país reconhecido tanto pela produção do vinho tinto Schilcher como pelo extremismo de direita e a intolerância religiosa. Na última segunda-feira (30/8), o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ, em alemão) lançou como parte de sua campanha para as eleições regionais, dia 26 de setembro, um videogame online no qual o jogador é convidado a atirar contra mesquitas e almuadéns (arautos que chamam os fiéis para as orações).
Em "Moschee Ba Ba" ("Tchau, tchau, mesquita", em alemão), o jogador deve interromper a construção de minaretes apontando um pequeno alvo contra as torres e clicando sobre uma placa de "Pare". Se errar, almuadéns vestidos em túnicas verdes e vermelhas surgem contra a paisagem alpina entoando o chamado para as orações diárias do Islã. Ao fim do jogo, cobre a tela o aviso "A Estíria está coberta por minaretes e mesquitas. Vote em Gerhard Kurzmann e no FPÖ em 26 de setembro para que isso não aconteça na realidade".
Reprodução
Tela inicial do jogo, usado por um partido de direita para sugerir que muçulmanos podem "dominar" a Áustria
Kurzmann, líder regional e principal candidato do FPÖ nas próximas eleições para o Landtag (assembléia legislativa estadual) da Estíria, tem se manifestado contra a introdução de palavras em inglês no cotidiano austríaco e é membro da Kameradschaft IV, organização formada por ex-soldados da Waffen-SS e seus familiares. O jogo "Moschee Ba Ba" somou ainda mais à sua má fama entre as lideranças islâmicas e a mídia austríaca.
"Este jogo é de grande mau gosto e incompreensível em um país no qual até o momento as pessoas viveram em paz e harmonia", afirmou o presidente da Associação de Fiéis Islâmicos na Áustria, Anas Schakfeh, à TV pública austríaca ORF. "É um caso de intolerância religiosa e xenofobia sem comparação".
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Já o jornal Der Standard, de orientação liberal, atacou nesta sexta-feira (3/9) o consultor de marketing político por trás da ação online. Alexander Segert, diretor da agência Goal - responsável também pelos cartazes usados pelo Partido Popular Suíço (conservador) antes do referendo que levou à proibição de minaretes na Suíça no ano passado - foi chamado de "candidato sem concorrentes para o nosso primeiro tomate. Contudo, nesse caso, um único tomate parece modesto demais". Uma fotomontagem com o rosto de Segert sendo atingido por um tomate ilustrava o artigo.
Neste domingo (5/9) também se manifestaram contra o jogo online o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, e o presidente da Áustria, Heinz Fischer. Enquanto Ki-Moon taxou o "Moschee Ba Ba" de "islamofóbico" e o considerou "completamente inaceitável", Fischer afirmou ser o jogo "realmente de mau gosto".
"A maturidade de uma democracia pode ser medida pela forma como as campanhas para suas eleições transcorrem. Os partidos devem ter consciência de que a pessoas são mais espertas do que se ingenuamente acredita e, na ausência de argumentos, não se deve partir para agressão verbal", continuou Fischer. "Admito, no entando, existirem problemas para aceitação e medo do Islã em noss país".
Cores e justiça
As agressões do jogo "Moschee Ba Ba" não param no Islã. A discreta referência às cores usadas pelos partidos políticos austríacos nas roupas dos almuadéns fica clara à luz das últimas declarações do diretor nacional do FPÖ, Heinz-Christian Strache, que chamou o Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ, em alemão) de "partido islâmico". Os membros do SPÖ são conhecidos como "vermelhos" e os do Die Grünen (Partido Verde) como "verdes".
Reprodução
Mensagem final exibida no videogame online, conclamando os eleitores a votar no partido FPÖ
Seguindo a denúncia apresentada pelo presidente estadual do Partido Verde, Werner Kogler, o procurador-geral de Graz, capital da Estíria, determinou a retirada do jogo do ar. Hoje, ao visitar a página do videogame, o internauta encontra a seguinte mensagem: "Graças à influência política de nossos adversários, este jogo foi proibido pela Justiça. Agora é sua vez de decidir em 26 de setembro".
"Sob o conceito de liberdade religiosa, nós não entendemos a necessidade de adaptação do espaço público e seus habitantes a uma determinada crença, mas apenas o direito de cada indivíduo de praticar os ritos da religião de sua escolha em sua vida privada", escreveu o candidato Kurzmann em comunicado liberado após a decisão da Justiça. "O principal objetivo do jogo, que era o de iniciar uma discussão e dar direito às pessoas de expressarem sua opinião publicamente com o voto, foi alcançado".
Um levantamento realizado pela consultoria Gallup mostrou ainda que 52% dos austríacos concorda com uma proibição dos minaretes, nos mesmos moldes da que já vigora na vizinha Suíça. Entre os mais resolutos estão homens (58% dos que se declaram contrários ao elemento arquitetônico islâmico pertencem ao sexo masculino), aposentados (57%) e moradores do oeste do país (63%). Contudo, em Viena, a atmosfera é de tolerância. A capital é a única cidade austríaca onde a maioria da população é favorável à construção de mesquitas com minaretes: são 49% contra 37%.
Atualmente, cerca de meio milhão de muçulmanos vivam na Áustria, de uma população total de 8,5 milhões de habitantes. Antes de sair do ar, a página www.moschee-baba.at tinha recebido 234.404 visitantes.
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Fonte: http://operamundi.uol.com.br
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