7 de julho de 2010

X Encontro de Culturas da Chapada dos Veadeiros

A natureza da Chapada dos Veadeiros é estudada pelos ambientalistas, cultuada pelos alternativos, amada pelos turistas, cantada em verso e prosa pelos escritores, vivida e preservada pelos moradores. A diversidade dos seres vivos, a imponência das águas, as minas de cristais e a paisagem espetacular deram motivo à criação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em 1961, pelo IBAMA, e, mais tarde, ao seu reconhecimento como Patrimônio Natural da Humanidade em 2001, pela UNESCO.
Distante cerca de 250 Km ao norte de Brasília e ocupando uma área de aproximadamente 21 mil km², a região abrange oito municípios goianos: Alto Paraíso, Campos Belos, Cavalcante, Colinas do Sul, Monte Alegre, Nova Roma, São João d`Aliança e Teresina.
Se, por um lado, a riqueza do meio ambiente salta aos olhos, a diversidade cultural é revelada aos poucos, a partir do cenário humano, de antiga ocupação (indígenas, bandeirantes, quilombolas, garimpeiros, geraizeiros/chapadeiros), marcada, sobretudo, pelos modos de vida rural e extrativista, mas também, pela presença de novos ocupantes (empresários dos ecoturismo, místicos e visitantes oriundos de todo o mundo). A população do território é de cerca de 60 mil habitantes, dentre eles, o povo indígena Avá-Canoeiro (Minaçu e Cavalcante) e nove comunidades quilombolas, sendo a do Quilombo dos Kalunga (Cavalcante, Teresina e Monte Alegre), a maior área do Brasil e a mais conhecida.
Estudos acadêmicos e inventários estão em vias de patrimonializar as expressões culturais da região, como a Caçada da Rainha (Colinas do Sul). A Chapada, então, é toda Patrimônio! Cultural, Histórico e Natural. Nosso dever é protegê-la e promovê-la. Desfrutá-la e desenvolvê-la.
O Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que é organizado pela Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge desde 2001, portanto, a 10 anos, evoluiu a partir da experiência do Festival de Cultura da Vila de São Jorge (Alto Paraíso), nascido em 1998.
Simultaneamente, diversas atividades culturais (Shows, Momentos Rituais, Oficinas, Prosas, Encontro de Capoeira e Feira de Oportunidades Sustentáveis), em diferentes espaços (Aldeia Multiétnica, Palco, Igreja, Espaço Dona Chiquinha e Seo Domingos, Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, Espaço Seo Tilu, Espaço Mamulengo, Escola, Galpão do Artesão e Raizama), propiciam, pelos cinco sentidos, uma intensa apreensão e uma vivência profunda das riquezas da Chapada.
Além de integrar mais fortemente as expressões culturais da região, promove o intercâmbio destas com realidades similares nacionais (Santa Rosa dos Pretos/MA, Povo Kayapó/PA, Povo Krahô/TO, Ganhadeiras de Itapoã e Zambiapunga/BA, Maracatu Leão Coroado/PE, Violas de Cocho/MT, etc.) e com o que é produzido por artistas que atuam em áreas diversas e com diferentes linguagens, de projeção nacional e, até mesmo, internacional, mas sempre ligados à estética das culturas populares e tradicionais (Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, Siba, Roberto Corrêa, Marlui Miranda, Cordel do Fogo Encantado, etc.).
Para cumprir esta tarefa de base, realiza a mobilização das lideranças tradicionais e a formação artística e cidadã das mais jovens, a exemplo do Projeto Turma que Faz, coordenado pela arte-educadora Dorothy Marques, para a discussão da realidade sócio-econômica dos Povos e Comunidades Tradicionais da Chapada. Atua também no fortalecimento das suas instituições e na introdução de novas formas de associação para a resolução dos problemas comuns, através da demanda de políticas públicas mais efetivas e próximas dos anseios da população local. Atualmente, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região é de apenas 0,68, demonstrando os baixos indicadores de educação formal, renda e longevidade.
As dificuldades iniciais foram sendo superadas com essa atuação política mais incisiva, sobretudo na área da cultura, e com o aprendizado proporcionado pela criação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, gerido pelo IPHAN. Essa luta obteve, em grande parte da história do Encontro, o patrocínio da PETROBRAS, via Lei Rouanet, além de outros apoios institucionais, públicos e privados, comos os recebebidos este ano através do Ministério da Cultura.
Com a ascenção da cultura e da área social como campos estratégicos para as políticas públicas, uma série de outros programas, ações e projetos puderam ser acessados ou discutidos dentro do processo de organização do Encontro, como o Programa Cultura Viva (Secretaria de Cidadania Cultural), Identidade e Diversidade Cultural: Brasil Plural (Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural), Brasil Quilombola (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), Territórios da Cidadania (Ministério do Desenvolvimento Agrário), Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (Ministério do Meio Ambiente e Ministério do Desenvolvimento Social), o Turismo de Base Comunitária (Ministério do Turismo), o Economia Solidária (Ministério do Trabalho e Emprego), o Arteíndia (FUNAI), dentre outros inúmeros mecanismos. O mais importante foi o maior acesso a eles pela população da Chapada dos Veadeiros para a resolução dos seus problemas e para a afirmação de seu potencial natural e cultural.
A coincidência do aniversário de 10 anos do Encontro com o cenário atual de transição política nos convenceu a construir uma programação que avaliasse o que já foi conquitado e o que ainda precisa ser alcançado. Nossa certeza é a de que os próximos 10 anos serão difícieis, de muito trabalho, mas que, ao final, nossa recompensa será uma Chapada mais consciente de suas potencialidades, preservada e sustentável do ponto de vista ambiental, habitada por comunidades autodeterminadas e protagonista do seu próprio destino.
Conheça os artistas, grupos e etnias que participam desta X edição do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros.

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