14 de janeiro de 2010

Haiti é país marcado por catástrofes

Imerso em caos, pobreza e desastres naturais, país tem visto esperanças frustradas ao longo de sua história.


14/01/10 - 09h38 - Atualizado em 14/01/10 - 09h35


O Haiti parece ter sofrido mais que o que lhe cabe quando o assunto é caos, pobreza e desastres naturais, escreve o especialista em América Latina Nick Caistor. Desta vez, como em situações semelhantes do passado, uma nova catástrofe atingiu o país justo quando a situação estava melhorando.


Até ser destruído pelo terremoto na terça-feira, o palácio presidencial era o prédio mais bonito da capital haitiana, Porto Príncipe.


Sua estrutura imponente, harmoniosa, de um branco resplandecente, era um símbolo das promessas que tantas vezes foram ao chão neste país de 10 milhões de habitantes.


O palácio está situado no Campo de Marte, uma grande praça pública próxima do porto da capital. É o centro da cidade, onde todos principais edifícios administrativos e comunitários estão reunidos.


Muitos deles, incluindo a catedral, o principal hospital e a sede da missão de paz da ONU, foram destruídos no pior terremoto a atingir o país em mais de cem anos.


Centenas podem ter morrido nessa área, mas a taxa de mortalidade deve ser muito maior em favelas miseráveis, como a Cité Soleil, onde dezenas de milhares de pessoas, entre os haitianos mais pobres, vivem em barracos de madeira ou latão, sem água potável, sistema de esgoto nem energia elétrica.


Muitos moradores destas favelas foram obrigados a migrar para Porto Príncipe porque, senão por outras razões, as condições no interior são ainda piores. Problemas graves de desnutrição, Aids e outras doenças crônicas são extremamente comuns.


O Haiti ocupa a terceira montanha do ocidente da ilha de Hispaniola. Quando os europeus chegaram à ilha pela primeira vez em mais de 500 anos, ficaram impressionado com as florestas da região.


Hoje, apenas 3% daquela madeira permanecem de pé no país. O resto foi derrubado e transformado em madeira serrada ou carvão vegetal, o combustível mais utilizado no interior.


Foi o desmatamento que intensificou a destruição causada por uma série de tempestades tropicais e furacões em 2008, que mataram quase mil pessoas e deixaram mais de um milhão sem moradia.


No intervalo de apenas um mês, o país foi atingido pelas tempestades tropicais Fay e Hanna e pelos furacões Gustav e Ike.


Em 2004, uma tempestade tropical atingiu o noroeste do Haiti, principalmente no porto histórico de Cap Haitien. Estima-se que 3 mil pessoas morreram.



Turbulências políticas


Além desses desastres naturais, o Haiti sofreu durante toda sua história com a turbulência política e os maus governos.


Quando 'Baby Doc' Duvalier foi deposto em 1986, parecia que o país finalmente desfrutaria de um período democrático.


Depois de anos de conflito, essa nova esperança era simbolizada pela eleição, em 1990, de um jovem ex-padre, Jean-Bertrand Aristide.


Seu tempo de governo durou muito pouco - em poucos meses os militares o depuseram e retomaram o poder. A experiência democrática morreu na praia, milhares de pessoas foram vítimas do novo regime, e outras milhares tentaram fugir do país em botes improvisados e precários.


Foi o grande fluxo desses deslocados para os Estados Unidos em 1994 que levou o então presidente americano, Bill Clinton, a pressionar pelo fim da regime dos coronéis.


Novamente, Jean-Bertrand retornou ao poder, e uma nova era, mais promissora, parecia prestes a ter início.


Sob seu comando, e de seu sucessor René Préval, e com a ajuda das Nações Unidas e de outras organizações internacionais, a vida melhorou um pouco, embora o Haiti tenha permanecido o país mais pobre do hemisfério ocidental, com uma renda média de menos de dois dólares por dia.


Foi após a eleição de Aristide para seu segundo mandato, em 2001, que a situação política voltou a retroceder e gerar mais violência.


O presidente foi forçado a deixar o poder no início de 2004, após meses de turbulência política crescente. Desde então, a ONU mantém no país uma força de paz composta de 9 mil soldados, incluindo cerca de 1,2 mil soldados do Brasil, que chefia a missão.


A força não só tem o objetivo de trazer estabilidade ao país, mas contribuir com projetos vitais de infraestrutura, como a construção de estradas.


Bill Clinton, hoje enviado especial da ONU, tem capitaneado ações para tirar do papel as promessas de ajuda feitas por doadores estrangeiros.


Sob René Préval, eleito para um segundo mandato em 2006, o Haiti tem visto uma melhora pequena, mas importante, nas condições de vida: empregos foram criados, a violência nas favelas, reduzida, e têm havido sinais de um tímido incremento no turismo.



Esperança frustrada


Como já ocorreu tantas vezes no passado do Haiti, as novas esperanças se frustraram.


Será necessário um grande esforço das Nações Unidas e da comunidade internacional só para resgatar as milhares de vítimas e recolher os destroços do terremoto.


Após os desastres de 2008, o presidente Préval disse que o Haiti precisa de ajuda de longo prazo para não ter de "enfrentar sozinho as catástrofes".


Em frente ao palácio presidencial de Porto Príncipe, do outro lado do Campo de Marte, está - ou estava - uma estátua erguida em homenagem aos escravos fugidos que se tornaram símbolo da luta pela independência do Haiti no fim do século 18.


Os haitianos de hoje precisam daquele mesmo espírito para superar o último golpe contra sua nação.
 
Fonte: BBC

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