31 de agosto de 2009

Segurança Pública - Diversidade é a palavra de ordem

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Sáb, 29 de Agosto de 2009 06:19
Marcado pela pluralidade de sua composição, conselho vota propostas para a política nacional

  • Renata Mariz - Correio Braziliense


Quem passar em frente ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães terá dificuldade para saber do que se trata o evento que ocorre lá desde ontem e que termina amanhã. Homens fardados, pessoas portadoras de deficiência, homossexuais, travestis, índios. A diversidade de perfis dos participantes da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg) é tanta que pode confundir transeuntes desavisados. Na visão do secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, o caldeirão de gente é um dos principais fatores do encontro, que conta com 40% de representantes da sociedade civil, 30% de trabalhadores da área e 30% de autoridades do poder público. No total, são cerca de 2 mil pessoas que vieram de todos os estados, onde foram eleitos para votar uma versão final das propostas que integrarão a política nacional de segurança pública.

"A ideia é justamente trazer a sociedade para a discussão, a fim de definirmos diretrizes do setor de forma mais acertada", destaca Balestreri. Para Walkiria La Roche, que representa na Conseg os travestis e transexuais, a experiência da convenção tem superado as expectativas. "Eu já tenho uma boa relação com as pessoas lá em Belo Horizonte e isso está se repetindo em Brasília. Conversamos com policiais civis, militares, gente da sociedade organizada. Tudo uma maravilha", conta Walkiria. O clima de não discriminação começou logo na chegada, na hora de se hospedar, quando a organização do evento colocou Walkiria em um quarto duplo, junto com uma guarda municipal do interior de Mina Gerais. "Eu nem a conhecia, mas foi tudo ótimo. Imagine se nos colocassem separados dos outros. Se transformaria num gueto", comenta.

Ao lado de Walkiria, um policial civil de Belo Horizonte enumera as propostas que sua corporação trouxe a Brasília e, mesmo em meio a tanta gente, reclama da ausência do Judiciário e do Ministério Público. "Mais uma vez, eles se encastelaram nos seus escritórios e deixaram a discussão sobre segurança pública para polícia e sociedade", critica Denilson Aparecido Martins. Mais adiante, Francisco dos Santos Sampaio exibe o adesivo na camiseta: "Desmilitarização, já!" Para o policial militar do Amapá, que liderou recentemente uma greve no estado, o formato militar é ultrapassado e fracassado. "Enquanto não tivermos um tratamento mais humano, uma formação voltada para a profissionalização, será difícil avançar na segurança pública", ressalta o PM, que relata perseguições em seu estado.

Respeito
O baiano Renildo Roseno não toma partido na questão. Militar ou não, o que ele defende é que a polícia respeite os direitos dos homossexuais. "Somos uma população desprezada. A segurança pública, quando nos nota, é para agredir, quase nunca acolher e ajudar", reclama Roseno, que faz parte da Associação de Defesa e Proteção dos direitos de homossexuais, cuja sigla é ProHomo. Aproveitando o embalo, Roseno levanta a bandeira do combate à intolerância religiosa, com destaque para atos de violência contra praticantes de credos de origem africana. Amanhã à tarde, todos se juntarão para ouvir o resultado final sobre a política nacional de segurança pública, escolhida por eles próprios por meio de votos durante a Conseg. "A esperança é que saia do papel", diz Roseno.

Como nós tínhamos que votar, acabamos conhecendo um monte de gente"
Patrícia Cunha, bombeira do Amapá


Conheça o caderno das propostas discutidas na conferência


Perfil do conselho


  • 2.097 representantes dos estados, devidamente eleitos, terão direito a voz e voto.
  • Desses, 40% são da sociedade civil, 30% do poder público e 30% de trabalhadores da área.
  • São 514 municípios participantes.
  • 222.335 pessoas participaram diretamente do processo — envolvendo as etapas municipais e estaduais, com todos os eventos.
  • 64.137 policiais foram ouvidos no Brasil, via web, em consultas realizadas pela organização da Conseg.



Disputa acirrada


As cerca de 2 mil pessoas com direito a voto que vieram a Brasília para participar da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg) passaram por um processo de eleição, no estado de origem, muitas vezes ferrenho.

Tal qual uma campanha para cargos públicos, os candidatos fizeram corpo a corpo, distribuíram panfletos e santinhos e discursaram para amigos. Mais de 40 mil pessoas participaram das etapas estaduais e municipais da Conseg, onde elegiam os representantes dos estados. "Como nós, trabalhadores da área, tínhamos que votar em duas pessoas da sociedade civil, acabamos conhecendo um monte de gente", diz a sargento Patrícia Cunha, bombeira do Amapá.

O baiano Renildo Roseno apostou nos panfletos com os principais tópicos relacionados à homofobia. "Distribuíamos para os participantes que iriam votar. Como nosso grupo é bem articulado em nosso estado, fazemos caminhadas e outros protestos. Não tivemos muitas dificuldades na eleição", conta o militante da causa gay. (RM)

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